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Mar/Abr 2007 

 


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História - Paes Barreto, o homem que iniciou a petroquímica brasileira


A foto ao lado marca um momento histórico na vida da indústria brasileira. Trata-se do discurso feito ao programa "A Voz do Brasil", em rede nacional, pelo Químico Industrial Carlos Eduardo Paes Barreto, terceiro presidente do CRQ-IV, anunciando o início das obras do primeiro pólo petroquímico do País, a Petroquímica União.

Nascido no Rio de Janeiro, Paes Barreto presidiu o CRQ-IV de 1969 a 1981. Por seu pioneirismo na condução de grandes projetos, foi um dos nomes mais importantes na consolidação das indústrias de refino de petróleo e petroquímica do Brasil. Estão entre seus maiores feitos a construção da Refinaria de Mataripe, na Bahia, da Refinaria e da Petroquímica União, em São Paulo.

Aos 24 anos, três meses após concluir a graduação em Química Industrial na Escola Nacional de Química da Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro), Paes Barreto recebeu da reitoria da instituição o convite para fazer uma especialização na Yacimientos Petrolíferos Argentina por dois anos.

Para que pudesse sustentar a si e a família durante o período em que estivesse na Argentina, o recém-formado fez uma proposta à Esso, empresa na qual havia acabado de ser efetivado após dois anos de estágio: se continuassem lhe pagando seu salário durante o período de estudos, assinaria um contrato de trabalho por mais três anos, a partir de seu regresso ao Brasil. Como a Esso recusou, ele não pensou duas vezes e pediu demissão imediatamente.

Saiu da empresa desorientado e receoso de dar à esposa, grávida do primeiro filho, a notícia de que estava desempregado. Na volta para casa, passou em frente ao prédio do Conselho Nacional de Petróleo (CNP), entrou e pediu uma audiência com o presidente do órgão, o então Coronel João Carlos Barreto – com quem, apesar do sobrenome, não tinha parentesco e sequer conhecia. Depois de três horas de espera, foi recebido pelo militar e lhe apresentou a mesma proposta que levou à Esso. Dessa vez, contudo, a resposta foi positiva. "Assim, em um mesmo dia, amanheci empregado da Esso, na hora do almoço estava desempregado e, na hora do jantar, contratado por cinco anos pelo CNP", conta Paes Barreto em seu livro "A saga do Petróleo Brasileiro". Teria início aí uma brilhante carreira que o levaria à liderança de grandes projetos implantados no País a partir do final dos anos 40 do século passado e também à presidência do CRQ-IV.

Refino - Durante o estágio na Argentina, Paes Barreto mantinha contato constante com o presidente do CNP, chamando sua atenção para a necessidade de o Brasil iniciar o refino e a industrialização do petróleo nacional, cuja existência era conhecida desde 1938. Diante dos argumentos do chefe de que o País não dispunha de técnicos e tampouco de empresas especializados para tal empreitada, o Químico Industrial sugeriu-lhe que consultasse a Petroleum Administration for War (PAW), agência criada pelos EUA, em 1942, para controlar todas as atividades da indústria petrolífera, durante a Segunda Guerra Mundial.

Contatado, em 1946 o governo norte-americano mandou para cá o especialista C. Stribling Snodgrass. Por quatro meses, Snodgrass e Paes Barreto, que acabara de voltar da Argentina, trabalharam intensamente entre o Rio de Janeiro e a Bahia. Ao final das pesquisas, os dois redigiram um relatório recomendando a construção de uma refinaria na cidade de São Francisco do Conde (BA), que se destinaria a beneficiar o petróleo extraído dos primeiros poços descobertos no Brasil, localizados no Recôncavo Baiano. Chamada inicialmente de Refinaria de Mataripe, por estar na foz de um rio de mesmo nome, a unidade foi depois rebatizada como Refinaria Landulpho Alves-Mataripe.

A proposta de construção da refinaria foi aceita. Nomeado pelo CNP para coordenar o projeto, Paes Barreto rumou para Nova York, onde permaneceu durante quase dois anos como representante do CNP junto à empresa encarregada de fornecer o equipamento e assistência técnica para construção e início de operação da planta industrial.

De volta ao Brasil, foi nomeado superintendente e, aos 28 anos de idade, viu-se com a responsabilidade de erguer a maior refinaria de petróleo do País. Na época, o Brasil contava apenas com uma refinaria, localizada na cidade de Rio Grande (RS), que até meados de março deste ano pertencia ao Grupo Ipiranga. Construída a partir de uma sociedade entre brasileiros, argentinos e uruguaios, a refinaria começou a operar na década de 1930 e processava apenas petróleo importado.

As obras de Mataripe começaram em 1949, tendo a planta industrial entrado em operação em 18 de setembro de 1950. Dois dias depois, Paes Barreto partiu a cavalo para a área urbana de São Francisco do Conde para depositar pessoalmente um cheque para pagamento de um imposto que na época incidia sobre toda a cadeia do petróleo. Acompanhado do chefe de segurança industrial e dois guardas da refinaria, foi recebido com banda no coreto e fogos de artifício pelo povo do lugar.

Paes Barreto foi superintendente da Refinaria de Mataripe até novembro de 1953, quando a incorporação da empresa pela Petrobras o fez pedir demissão do CNP. Adepto do liberalismo econômico, o ex-presidente do CRQ-IV era contrário ao monopólio do petróleo por acreditar que a falta de concorrência desestimula a busca pelo incremento da qualidade e a redução dos preços.

Em seu livro "A saga do petróleo brasileiro", Paes Barreto conta de modo detalhado como o monopólio da Petrobras impediu que as poucas refinarias particulares existentes no País (Ipiranga e Manguinhos, esta inaugurada em dezembro de 1954) melhorassem seu sistema de produção, o que reduziria o custo dos derivados de petróleo para a população. "Ele era um intransigente defensor de que todos nós deveríamos consumir coisas baratas e bem feitas", lembra Alfredo Carlos Paes Barreto, seu filho.

Convite - Ao deixar o CNP, Paes Barreto foi convidado para ser gerente da Esso em São Paulo, sua antiga empregadora. O profissional já se preparava para assumir o posto quando foi procurado por um amigo, Santiago Dantas, um importante advogado do Rio de Janeiro da época, que lhe propôs um encontro com os empresários Alberto Soares Sampaio e Walter Moreira Salles. O objetivo dos dois empreendedores? Entregar à Paes Barreto o comando da construção da Refinaria União, em Capuava, Santo André (SP).

A instalação da refinaria, de capital privado, havia sido autorizada antes da lei que estabeleceu o monopólio da Petrobras. Para não perder a concessão, contudo, os empresários teriam de fazer a fábrica começar a produzir até o final de 1954. Mesmo com uma proposta financeira menor que a da Esso e com o desafio de concluir a obra em apenas 13 meses, o ex-presidente do CRQ-IV aceitou o convite.

No canteiro de obras, deparou-se com um laudo do então Instituto Paulista de Tecnologia (IPT) indicando que 80% das fundações da planta haviam sido reprovadas nos testes de resistência. Debruçou-se com sua equipe sobre o assunto e logo descobriu que a causa do problema era o tipo de cimento utilizado. Imediatamente, emitiu uma ordem determinando a substituição do fornecedor.

Tudo resolvido? Em parte! Poucos dias depois, ele foi ao aeroporto recepcionar um dos diretores da refinaria, que trazia junto um dirigente da companhia cujo cimento fora proibido por Paes Barreto. O homem exigiu explicações sobre o caso. Foi aí que Paes Barreto descobriu que Alberto Soares Sampaio, acionista majoritário da Refinaria União, era também um dos donos daquela fornecedora de cimento. Demonstrando jogo de cintura e, principalmente, grande preparo para o cargo, Paes Barreto apresentou argumentos técnicos que convenceram seus superiores sobre o acerto da medida.

Depois de superar vários outros obstáculos, Paes Barreto colocou a refinaria em operação no dia 15/11/1954, 45 dias antes do prazo final estabelecido pelo CNP.

Petroquímica - Em 1967, assumiu um novo desafio: construir o primeiro pólo petroquímico do País, a Petroquímica União (PQU). Para viabilizar o empreendimento, foi obtido um financiamento junto ao Banco Mundial, que também adquiriu 10% das ações da empresa. O valor, contudo, não era suficiente, o que levou o ex-presidente do CRQ-IV e três representantes dos acionistas a buscarem outro financiamento internacional. Fecharam negócio com um grupo de bancos franceses (veja box abaixo).

Paes Barreto presidiu a PQU de 1967 a 1973. Nesse período, conduziu a construção da indústria bem como o início de suas operações. Pelos mesmos motivos que, 20 anos antes, o levaram a se desligar da Refinaria de Mataripe, ele deixou a petroquímica quando a Petroquisa (Petrobras Química S.A.) assumiu o controle acionário da empresa.

A partir de então passou a prestar consultoria técnica para diversas indústrias químicas, entre elas a Rhodia, a Moinho Santista e a Sanbra – Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro. Fez parte do conselho de administração de algumas dessas companhias e assumiu cargos de direção em entidades como o Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para Fins Industriais e da Petroquímica no Estado de São Paulo – Sinproquim (secretário-executivo de 1973 a 1980) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – Fiesp (vice-presidente de 1970 a 1973).

CRQ-IV - A entidade a que dedicou mais tempo, contudo, foi o CRQ-IV, do qual foi presidente por quatro mandatos (de 1969 a 1981). Segundo seu filho Alfredo, três trabalhos a frente do Conselho o deixaram particularmente satisfeito: um acordo firmado com o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA-SP) para definir áreas de atuação das duas entidades; a sistematização da distribuição de bolsas de estudo para estudantes da área química oferecidas pelos CRQ-IV e a instituição do Prêmio Fritz Feigl, em 1974. Também coube a ele reformar e mobiliar o 13º andar do Edifício Britânia, adquirido pelo CRQ-IV para abrigar o Plenário e a Diretoria da Casa.

Quando finalmente aposentou-se, em 1988, Paes Barreto dedicou-se a cuidar dos netos que lhe deram os três filhos – o administrador de empresas Alfredo Carlos, o economista Carlos Alberto e a pedagoga Renata. Faleceu em setembro de 2001, aos 81 anos.
 
Acordo pôs fim à "guerra" com a França
 
O financiamento obtido para viabilizar as obras da PQU foi o primeiro grande negócio fechado entre Brasil e França depois de um episódio ocorrido 14 anos antes e que, apesar de folclórico, acabou por estremecer as relações entre os dois países. Conhecido como "guerra da lagosta", na qual não foi disparado nenhum tiro, o conflito teria mobilizado as respectivas armadas na disputa pela pesca do crustáceo na costa brasileira. A concretização do acordo comercial com a PQU reuniu ministros e parlamentares dos dois países. A importância do negócio foi tamanha que Paes Barreto, por ter estado à frente das negociações, recebeu o título de cavaleiro da Legião de Honra da França (veja ao lado foto da cerimônia ), da qual também fazem parte os brasileiros Oscar Niemeyer e Alberto Santos Dumont.
 
Livro conta história da indústria do petróleo no Brasil

Em 2001, pouco antes de falecer, Carlos Eduardo Paes Barreto publicou o livro “A saga do petróleo brasileiro ‘A farra do boi”, no qual conta a história da construção da Refinaria Landulpho Alves – Mataripe (BA), da Refinaria União (SP) e da Petroquímica União, registrando episódios marcantes e pitorescos do inicio da exploração do petróleo e da indústria petroquímica no País. Ao longo da narrativa, ele explica, mostrando fatos e números, por que sempre foi contrário à condição monopolista da Petrobras. O livro custa R$ 32,00 na editora, a Livraria Nobel (www.livrarianobel.com.br).




 




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