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Jul/Ago 2006 

 


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A Química no Campo: a contribuição desta ciência para as supersafras


Ciência garante alimentos saudáveis tanto nas lavouras
convencionais quanto nas orgânicas

Em 1977, agricultores brasileiros colheram 47 milhões de toneladas de milho, soja e outros grãos. Vinte e sete anos depois (2004), numa safra recorde, eles tiraram de suas lavouras 120 milhões de toneladas desses mesmos produtos, quase três vezes mais do que o obtido no final dos anos 1970, numa área apenas 27% maior.

Os números são da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e revelam um aumento de produtividade de mais de 155%. Ao lado do melhoramento genético e do aprimoramento do maquinário empregado no campo, a ciência e a tecnologia química tiveram papel importante na obtenção desses resultados, com o desenvolvimento de novos fertilizantes e defensivos agrícolas.
 
Comparativo: área cultivada e produção de grãos no Brasil (1976-2006)

Fonte: Conab (Clique aqui e confira o histórico da produção brasileira)

“Existe uma estreita correlação entre o aumento do uso eficiente de fertilizantes minerais e o aumento da produtividade e da produção de grãos nesse período”, afirma o engenheiro agrônomo Alfredo Scheid Lopes, professor emérito da Universidade Federal de Lavras (Ufla-MG). Ele também destaca a contribuição da química para o diagnóstico de fertilidade do solo e a nutrição das plantas, aprimorando as técnicas de análise em laboratório e as recomendações de adubação.

A utilização de recursos minerais para melhorar a fertilidade do solo é uma técnica antiga. O engenheiro agrônomo José Mamprin, da Fosfertil, diz que há pelo menos dois séculos agricultores começaram a usar ácido sulfúrico para transformar ossos em fonte de cálcio e fósforo. O Engenheiro Químico Henrique José Brum da Costa, também da Fosfertil, vai mais longe na história e conta que povos antigos incorporavam algumas areias ao solo para aumentar sua fertilidade. Segundo ele, com o avanço do conhecimento da química, foi possível conhecer a composição daqueles materiais, identificar os elementos benéficos para as plantas e desenvolver métodos para obtê-los e utilizá-los de modo mais eficiente.

Segundo o professor Lopes, a maior parte dos processos de fabricação de fertilizantes foi desenvolvida há mais de cem anos. No entanto, a indústria química criou métodos para aprimorá-los, o que permitiu o aproveitamento de rochas brasileiras com baixíssimo teor original de óxido de fósforo. Possibilitou, ainda, o desenvolvimento de produtos contendo dois ou mais nutrientes no mesmo grão e a fabricação de fertilizantes com a chamada disponibilidade controlada que, dependendo do tipo de produtos químicos utilizados na sua fabricação ou do tipo de revestimento, podem nutrir as plantas por até seis meses com uma única aplicação.

Para Mamprin, da Fosfertil, os métodos químicos para obtenção de fertilizantes são fundamentais para acelerar o processo que torna os nutrientes disponíveis aos vegetais. “Ou você promove uma reação química que acelere o processo ou espera que a própria natureza faça, em alguns milhares de anos, o mesmo trabalho que ácidos fazem em pouco tempo”, compara.

Os três nutrientes de que as plantas necessitam em maior quantidade, chamados macronutrientes primários, são o nitrogênio, o potássio e o fósforo. O primeiro é extraído da atmosfera e submetido a reações químicas com o hidrogênio, que geralmente é obtido de fontes petroquímicas. Desse processo, surge a amônia e, a partir dela, são produzidos o nitrato de amônio ou a uréia, compostos amplamente usados para fornecimento de nitrogênio na agricultura.

Fósforo e potássio, por sua vez, são obtidos de fontes minerais. Depois da extração, eles são submetidos a processo físicos e químicos que promovem a concentração dos nutrientes. De acordo com Mamprin, o teor de concentração do fósforo nas rochas brasileiras é de aproximadamente 15%. Isso quer dizer que, em 100 quilos de rocha, há apenas 15 quilos de fósforo; os 85 quilos restantes são compostos por outros elementos. Dessa forma, o agricultor que incorporasse ao solo uma tonelada de rocha fosfática, obteria apenas 150 quilos de fósforo.

Conforme explica Costa, da Fosfertil, o que os processos de beneficiamento desenvolvidos por pesquisadores da área química e mineral fazem é eliminar, por meio de processos físicos e químicos, parte daqueles outros elementos. Tais processos começam nas usinas instaladas nas minas de rocha fosfática e continuam nas fábricas de fertilizantes, onde o material extraído é submetido a novos métodos de concentração, além de receber novos elementos de interesse agronômico e ser adequados às necessidades de uso final. Com isso, em uma tonelada de fertilizante, o produtor rural consegue obter até 550 quilos de fósforo, além de outros nutrientes importantes.

A grande vantagem disso é reduzir custos de transporte e aplicação de produtos. Antes do aprimoramento dos processos físicos e químicos de beneficiamento de rochas, o produtor rural que precisasse incorporar ao seu solo cinco toneladas de fósforo teria de comprar e transportar mais de 30 toneladas de rocha fosfática fertilizante e esperar que a natureza tornasse este fósforo disponível para a planta. Hoje, ele consegue adicionar ao seu solo a mesma quantidade desse nutriente, que a planta tem disponível em curto espaço de tempo, transportando apenas nove toneladas de fertilizante. “O transporte é uma variável muito importante no custo de produção agrícola”, ressalta o agrônomo da Fosfertil.

De acordo com Costa, as indústrias de fertilizantes estão investindo em estudos que reduzam custos de produção. Nesse sentido, a contribuição da química tem sido fundamental para diminuir perdas, impedir o desenvolvimento de processos poluentes ou de alto custo energético e para descobrir novas matérias-primas, inclusive entre os resíduos dos processos industriais. “O gesso, por exemplo, é um resíduo da produção de ácido fosfórico. Após muitas pesquisas e estudos, identificou-se que, quando aplicado no solo, ele melhora a performance da agricultura”, conta o Engenheiro Químico. Essa melhoria no desempenho da produção é obtida à medida que o gesso corrige a acidez e fornece cálcio e enxofre ao solo.

Defensivos

Nas empresas fabricantes de defensivos agrícolas, as pesquisas também são constantes. Na opinião do engenheiro agrônomo Guilherme Guimarães, gerente de regulamentação federal da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), mais do que melhorar a eficácia dos produtos, as pesquisas os tornaram mais seguros para o consumidor, para o trabalhador rural – que é o responsável por sua aplicação nas lavouras – e também para o meio ambiente.

Um levantamento da Andef mostra que, na década de 1960, os agricultores precisavam aplicar, em média, mais de um quilo de inseticida por hectare para combater pragas; na década de 1990, o volume médio aplicado caiu para menos de 70 gramas por hectare, uma redução de 93%. Ao mesmo tempo, os defensivos se tornaram menos tóxicos: de acordo com a Andef, a toxicidade dos inseticidas foi reduzida em cerca de 160 vezes, no período de 1960 a 2000. (Confira o gráfico abaixo).

“Dos anos 1960 até a atualidade, houve uma mudança da característica dos produtos que vêm sendo registrados e isso é resultado de um grande processo de pesquisa”, relata a bióloga Luciana Schumann Rado, gerente de registro de produtos agrícolas da Basf. Ela explica que essas pesquisas deram origem a novas moléculas e princípios ativos, que permitiram a redução do volume aplicado e da toxicidade dos defensivos agrícolas, que também chamados de produtos fitossanitários. Guilherme Guimarães, da Andef, diz que as indústrias de defensivos agrícolas continuam investindo constantemente em pesquisas que gerem novos princípios ativos. O objetivo é, além de melhorar a qualidade dos produtos, evitar que as pragas criem resistência em função do convívio com as substâncias usadas como defensivos. Ele também explica que, antes de chegarem ao campo, as moléculas criadas são submetidas a vários testes para verificar sua eficiência e a segurança para o homem e o meio ambiente. A estimativa é de que a cada 45 mil moléculas desenvolvidas apenas uma se transforme em produto.
 
Evolução das doses médias de aplicação de produtos fitossanitários no Brasil (gramas/hectare)
 

Fonte: Andef (Clique aqui e veja os números em detalhes)

Para o professor Alfredo Scheid Lopes, da Universidade Federal de Lavras, o aprimoramento dos fertilizantes e defensivos agrícolas trouxe ao País benefícios econômicos, sociais e ambientais. Ela lembra que, em 2004, o agronegócio respondeu por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) e 37% dos empregos gerados no Brasil, além ter sido responsável por 40% das exportações. Os resultados obtidos nas colheitas permitiram que, em 2000, a cesta básica pudesse ser adquirida por apenas um terço do que custava em 1975, salienta.

No que diz respeito aos benefícios ambientais, o Lopes explica que, com o aumento da produtividade, 80 milhões de hectares deixaram de ser desmatados para atingir os atuais índices de produção. “Nada disso teria acontecido sem a evolução da química”, ressalta o professor.

Para saber mais sobre a parceria entre a química e a agricultura, clique aqui e leia a íntegra da entrevista concedida pelo professor Alfredo Scheid Lopes ao Informativo CRQ-IV.




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