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A história de Sir Humphry Davy, o Químico Romântico - Conselho Regional de Química - IV Região

A história de Sir Humphry Davy, o Químico Romântico 

 




Sir Humphry Davy foi um dos grandes químicos do início do século XIX. Com suas ideias liberais e românticas, Davy conseguiu crescer cientificamente e isolar, pela primeira vez, sete elementos químicos, utilizando a então recém-inventada pilha eletroquímica. A seguir veremos um resumo da vida desse grande químico.

Thomas Phillips/Wikimedia Commons

Sir Humphry Davy

Nascido em Penzance, na Cornualha (sudoeste da Inglaterra), no dia 17 de dezembro de 1778, filho de um carpinteiro e de uma dona de casa, Humphry Davy foi o primeiro de cinco filhos. Ele cresceu em uma época em que o Iluminismo, uma filosofia que pregava a busca da razão como um valor fundamental, estava em seu auge. Junto com o movimento iluminista, começava a surgir o Romantismo, um movimento artístico que glorificava os sentimentos humanos. Talvez nenhum outro cientista da época tenha unido tão bem essas duas tendências.

Apaixonado pela Química desde pequeno, foi convidado em 1798 pelo químico e físico inglês Dr. Thomas Beddoes para trabalhar na sua recém-formada instituição de pesquisa The Pneumatic Institution, em Bristol, que tinha a finalidade de tratar de doenças respiratórias, principalmente a tuberculose, com o uso de gases. Foi em Bristol que Davy começou sua carreira como químico.

Como era também pintor e poeta, Davy chamou a atenção dos pioneiros do movimento literário romântico inglês, conhecidos como “Lake Poets”: William Wordsworth, Samuel Taylor Coleridge e Robert Southey. Humphry Davy e os poetas românticos reuniam-se constantemente em frente a uma bela paisagem no interior da Inglaterra para admirar a Natureza, obter inspiração para escrever seus poemas românticos e filosofar, algumas vezes sob efeito do N2O (óxido nitroso), gás estudado por Davy.

O N2O é um óxido de nitrogênio, gasoso a temperatura ambiente, incolor e que, quando inalado, deixa menos ativa a região do cérebro relacionada aos sentimentos e à autocensura. A pessoa que o experimenta entra em um estado de relaxamento e felicidade, podendo mesmo rir à toa ou chorar (ao que parece, mais rir do que chorar). É uma sensação parecida com a experimentada por quem bebe demais.

Davy, como outros químicos da época, tinha o perigoso hábito de testar em si mesmo os gases que estudava. Festas eram organizadas nas quais os convidados se deliciavam com a inalação do famoso gás hilariante. Em seu livro “Researches, Chemical and Philosophical, chiefly concerning nitrous oxide and its respiration”, publicado em 1800, Davy sugeriu a utilização do óxido nitroso como anestésico em cirurgias e outras operações médicas, por suas propriedades analgésicas. Foi somente em 1844, quando o dentista de Connecticut (EUA), Horace Wells, usou o óxido nitroso para a extração de dentes, que esse gás se tornou uma das primeiras substâncias usadas sistematicamente como anestésico.

Seu livro foi um sucesso no meio científico da época, aumentando sua fama. No dia 9 de março de 1801, Davy deixou Bristol e foi para Londres, a fim de ocupar o cargo de professor assistente de Química da Royal Institution, uma organização fundada dois anos antes e dedicada à divulgação científica e à pesquisa. Na instituição eram proferidas palestras referentes aos recentes desenvolvimentos da ciência e tecnologia para cidadãos comuns. Apesar de autorizada pelo Rei George III, a Royal Institution não recebia qualquer patrocínio do governo, necessitando, portanto, de doações, geralmente conquistadas através das cativantes palestras de Davy em pesquisa aplicada, atraindo homens de negócios e conquistando pessoas esclarecidas.

Suas palestras eram abertas ao público e nelas Davy realizava uma série de demonstrações e experimentos. Explosões, mudanças de cor e precipitações eram a marca dos seus experimentos. Era uma divulgação da Química como ciência interessante e útil para a sociedade britânica. Seu carisma fez de Davy um sucesso imediato, principalmente com as damas de Londres. Logo, Davy era o químico mais famoso da Grã-Bretanha. Tornou-se professor titular da Royal Institution em 1802, foi eleito membro da Royal Society de Londres em 1803 e premiado com a medalha Copley em 1805.

A partir do início do século XIX, Davy interessou-se por eletricidade. Aplicando uma corrente elétrica em substâncias selecionadas, ele conseguiu isolar elementos químicos até então desconhecidos. Assim Davy preparou o potássio e, utilizando a mesma técnica, também o sódio, cálcio, bário, boro, magnésio e estrôncio.

Davy foi um dos pioneiros da área da Química que chamamos hoje de Eletroquímica. Utilizando a eletrólise, Davy investigou o enxofre, o nitrogênio e o carbono, procurando descobrir se aquelas substâncias eram simples (elementares) ou compostas por outros elementos. Por fim, concluiu que todas eram substâncias simples.

O cloro foi outro elemento caracterizado com a colaboração de Davy. O gás cloro (Cl2) foi isolado pela primeira vez em 1774, pelo químico sueco Carl Willhelm Scheele. Ele acreditava que este gás era um óxido de um elemento desconhecido, que chamou de “muriaticum” (por ter sido isolado do ácido muriático, como era conhecido o HCl na época). Isso aconteceu porque se pensava que todo ácido era composto por oxigênio (que significa “gerador de ácidos”).

Baseado nos trabalhos de dois químicos franceses, Joseph Louis Gay-Lussac e Louis Jacques Thénard, Davy demonstrou que o gás cloro não era um óxido, mas um gás composto apenas de um elemento que chamou de cloro (do grego “chloros”, que significa “verde”) devido à sua coloração amarelo-esverdeada em condições ambiente. Também demonstrou que o ácido clorídrico era um composto de hidrogênio e cloro, contrariando a teoria de que todos os ácidos conteriam oxigênio.

Davy também trabalhou na determinação de outro elemento, o iodo. Em 1811, o boticário francês Bernard Courtois descobriu uma substância sólida de cor cinza, que quando aquecida se transformava em um vapor de cor violeta, sem passar pelo estado líquido. Trabalhando como cirurgião durante as Guerras Napoleônicas, Bernard não pode terminar seus experimentos e enviou duas amostras para quatro químicos franceses.

Em novembro de 1813, as duas equipes ainda não tinham uma conclusão clara acerca da substância investigada e enviaram uma amostra para Davy. No dia 10 de dezembro daquele ano, Davy publicou um pequeno artigo, no qual descreveu as propriedades da substância, que eram semelhantes às do cloro. Ele a chamou de iodo (do grego “iodes”, que significa “violeta”). Parte dessas pesquisas com elementos e eletricidade foi publicada por Davy em 1812, em seu livro “Elements of Chemical Philosophy”, um grande sucesso no meio científico.

Logo depois de ser nomeado “Sir” pelo Rei George III, Davy sofreu um acidente de laboratório. Uma explosão do NCl3 (tricloreto de nitrogênio) deixou-o cego temporariamente, obrigando-o a procurar um ajudante. Alguns meses antes, ele havia recebido um caderno de anotações de um rapaz pobre, que havia ganhado ingressos para assistir suas palestras. Era Michael Faraday (1791-1867), que trabalhava como aprendiz de encadernação em uma livraria de Londres. Davy ficou surpreso em saber como um rapaz sem estudo tinha tomado notas tão adequadas sobre sua palestra. Ele contratou Faraday como seu ajudante em 1813. Davy ainda não sabia, mas Faraday se tornaria um notável cientista, a ponto de eclipsar a figura do mestre.

www.daviddarling.info

  A lâmpada de Davy, inventada por Sir Humphry Davy em 1815, dissipava o calor e inibia a ignição do CH4 presente nas minas de carvão

Ao longo de sua carreira, Davy buscou trazer a Química para a vida da sociedade. Seu livro “Elements of Agricultural Chemistry in a Course of Lectures” (1813) tratava da aplicação da Química à agricultura. Em 1815, inventou aquela que ficou conhecida como “lâmpada de Davy”, uma lamparina protegida por uma rede metálica, geralmente de cobre, que dissipava o calor e, assim, inibia a ignição do gás metano (CH4) comumente encontrado em minas de carvão, diminuindo o número de acidentes e explosões nesses lugares. Por suas pesquisas sobre combustão e calor, Davy ganhou a Medalha Rumford em 1816.

Com o prestígio crescente ao longo do tempo, em 1818 Davy foi agraciado com o título de baronete e nomeado presidente da Royal Society em 1820. Em 1826, ganhou mais um prêmio, a Royal Medal pelo desenvolvimento da eletroquímica. Presidiu a Royal Society até 1827, renunciando ao cargo devido a problemas de saúde, sendo substituído pelo colega Davies Gilbert. Mudou-se para Roma a fim de procurar tratamento, mas acabou falecendo em Genebra, na Suíça, com apenas 50 anos, no dia 29 de maio de 1829. Em sua homenagem foi criada, em 1877, a Medalha Davy pela Royal Society de Londres, para premiar descobertas recentes excepcionalmente importantes em qualquer ramo da Química.

Sir Humphry Davy foi um grande propagador da Química como ciência. Apesar de nunca ter se formado em uma universidade, Davy deu importantes contribuições à Ciência. Em uma época na qual novos pensamentos e filosofias surgiram na Europa e no mundo (Romantismo, Revolução Industrial, Revolução Francesa e Guerras Napoleônicas), Davy ajudou a transformar a Química com seu trabalho inovador e original.

Leonardo Vieira Albino
Graduando do 4° ano - Bacharelado em Química
Instituto de Química – UNESP/Araraquara - SP

Revisão: Prof. Antonio Carlos Massabni
Instituto de Química – UNESP/Araraquara - SP

 



Referências:

  • WEEKS, M. E.; LEICESTER, H. M.; Discovery of the Elements. ed. 7. Journal of Chemical Education. Easton, Pa. 1968.

  • PARIS, J. A.; The life of Sir Humphry Davy, bart., LL.D.. vol. I. Londres. H. Colburn an R. Bentley. 1831. p-1-547.

  • HOLMES, R.; Humphry Davy and the Chemical Moment. The Clinical Chemist - International Year of Chemistry 2011. 2012.

  • HINDLE, M.; Humphry Davy and William Wordsworth: A Mutual Influence. Edinburgh University Press. Romanticism. 2012.

  • BELTRAN, M. H. R.; Humphry Davy e as Cores dos Antigos. Química Nova. Vol. 31, No. 1, 181-186, 2008.

  • PEIXOTO, E. M. A.; Magnésio. Química Nova na Escola – Elemento Químico. n. 12. nov. 2000.

  • PEIXOTO, E. M. A.; Cloro. Química Nova na Escola – Elemento Químico. n. 17. mai. 2003.

  • PEIXOTO, E. M. A.; Potássio. Química Nova na Escola – Elemento Químico. n. 19. mai. 2004.

  • SWAIN, P. A.; Bernard Courtois (1777-1838), Famed for discovering Iodine (1811), and his life in Paris from 1798. Bull. Hist. Chem., Vol. 30, Number 2. 2005.

Publicado em 02/10/2015


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