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Jul/Ago 2011 

 


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Sacolas plásticas são mesmo prejudiciais?


Estudo feito por agência ambiental britânica diz que elas causam menos impacto que outras opções de embalagens disponíveis em supermercados

Sacolinhas de supermercado, feitas de polietileno, são as vilãs do meio ambiente por poluir rios, cidades e lixões e devem ser banidas? Ou, pelo contrário, são indispensáveis ao dia a dia da população por serem úteis na hora de carregar as compras e acondicionar o lixo? Esta polêmica vem mobilizando as indústrias do setor, ambientalistas, autoridades, a população e pesquisadores em geral.

Os que são contra as sacolinhas contabilizam algumas vitórias importantes: várias cidades do País, entre elas São Paulo, fizeram leis proibindo os supermercados de as fornecerem aos consumidores; na Assembleia Legislativa paulista tramita um projeto propondo o recolhimento e substituição das sacolas feitas de polietileno, polipropilenos e similares por sacolas “biodegradáveis, compostas por matérias que se degradam naturalmente, assim como a oxidegradável. Ambas possuem aditivo para acelerar o processo de degradação”, segundo justifica o advogado, pastor e deputado José Bittencourt (PDT), autor do projeto.

Na trincheira oposta, o Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos (Plastivida), mantido por indústrias do setor, o Instituto Nacional do Plástico e a Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis veicularam nos meses de junho e julho uma campanha em redes de rádio de São Paulo, Santa Catarina, Ceará e Pernambuco garantindo que as sacolinhas são sustentáveis, reutilizáveis por toda a população para acondicionar o lixo, além de serem recicláveis.

As entidades baseiam suas afirmações em estudo feito pela Agência Ambiental Britânica e publicado em feve- reiro deste ano. O trabalho demonstrou que, comparadas a outros tipos de embalagens, as sacolinhas usam menos matéria-prima em sua fabricação e emitem menos CO2 durante seu ciclo de vida. “Por que acabar com a embalagem mais sustentável?” questiona a campanha.

Diretor executivo do Plastivida, o Engenheiro Químico Miguel Bahiense diz que a intenção do instituto é mostrar para a sociedade os reais temas envolvidos na questão. “Tenta-se proibir o produto considerado o mais seguro do ponto de vista ambiental segundo um estudo científico”, diz. Ele assegura que o trabalho feito pelos britânicos seguiu todos os parâmetros, normas e exigências técnico-científicas e comparou o ciclo de vida das sacolas plásticas comuns com os outros tipos de embalagens que poderiam ser usadas para substituí-las, como saco de papel, caixa de papelão, sacola de algodão e sacolas biodegradáveis.

A análise do ciclo de vida vai desde o momento da extração da matéria-prima para fazer os produtos até seu descarte. De nove categorias ambientais, atesta o estudo britânico, as sacolas plásticas comuns tiveram melhor desempenho em oito, inclusive nas principais: durante seu ciclo de vida emitiram menos CO2, o gás do efeito estufa, e consumiram menos matéria-prima. “Então, porque se discute de forma tão intensa as sacolas como se elas fossem as vilãs ambientais se um estudo científico, que deveria balizar as discussões, mostra que o produto é o mais adequado?” questiona Bahiense.

Para ele, o impacto ambiental será péssimo caso a proibição vire lei, porque a melhor alternativa ambiental estaria sendo descartada. “Existem leis banindo as sacolinhas, mas várias já foram consideradas inconstitucionais pela Justiça e perderam a validade” garante. Tais decisões estariam embasadas no conceito de que, depois de utilizadas, as sacolinhas viram resíduo sólido urbano, que é um tema já regulamentado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ou seja, estados e municípios não podem ter uma lei que se sobreponha à legislação federal.

Alex Sandro Babetto, Bacharel em Química Tecnológica, pesquisador e professor na área de polímeros da Faculdade Senai de Tecnologia Ambiental Mario Amato, diz que não se sabe exatamente quanto tempo uma sacola plástica leva para se decompor na natureza. “Não existem dados concretos, apenas estimativas fundamentadas em experimentos de biodegradação de PEAD (Polietileno de alta densidade). A estimativa é que uma sacola de PEAD demore, aproximadamente, 300 anos para se decompor completamente em moléculas simples como CO2 ou CH4. Este tempo depende da espessura da parede do produto”, informa.

Lixo - O impacto de uma eventual proibição das tradicionais embalagens seria sentido pela população. Segundo Bahiense, o consumidor usa a sacolinha para transportar as compras e, depois, para acondicionar o lixo da cozinha, banheiro, embalar sapatos, roupas e outros objetos. “Desde que existe, o saco plástico sempre foi considerado a melhor forma de acondiconar lixo porque evita a contaminação do solo pelo chorume – líquido gerado pelo lixo orgânico – quando depositado no lixão”, lembrou. Se sumir do supermercado, acrescentou, uma parcela de consumidores passará a comprar o saco de lixo e o plástico continuará a ser usado da mesma forma. Outra parcela poderá descartar seu lixo em latões, o que naturalmente atrairá roedores e outros vetores de doenças. “E na hora que chover vai tudo se espalhar, gerando um sério problema sanitário”, adverte.

Para o Plastivida, a questão não é a sacola plástica, mas a forma equivocada com que ela é utilizada. Para amenizar esse problema, a entidade lançou há três anos o Programa de Consumo Responsável, focado na educação. Miguel Bahiense diz que um dos fatores do desperdício era a fragilidade das sacolas, o que levava o consumidor a usar várias unidades para embalar suas compras ou, na reutilização, para acondicionar o lixo. Quando as fabricantes passaram a disponibilizar sacolas com capacidade para suportar até seis quilos, providência prevista no programa, o consumo foi reduzido.

As estatísticas comprovam essa afirmação: em 2008, quando o programa foi lançado, eram consumidas no Brasil 17,9 bilhões de sacolinhas por ano. Com a melhoria da qualidade das embalagens e o trabalho de conscientização que incluiu o treinamento de caixas e empacotadores dos supermercados, o consumo caiu para 14 bilhões de sacolas em 2010. A redução de 3,9 bilhões num período tão curto ganha mais relevância quando se considera que o poder aquisitivo do brasileiro aumentou e que, além disso, mais pessoas passaram a consumir. “Mostramos que o processo de educação é o caminho”, ressalta o diretor do Plastivida.

O setor - O Brasil tem cerca de 250 empresas fabricantes de sacolas, que geram 30 mil empregos diretos e 100 mil indiretos. Miguel Bahiense informa que algumas fábricas só produzem sacolas de supermercados, enquanto outras também fabricam sacos de lixo. Se elas forem proibidas não dá para imaginar que todas as empresas passem a fazer apenas sacos de lixo, porque uma demanda não substitui a outra. Logo, haverá desemprego.
Em relação às sacolas com componentes oxibiodegradáveis, que se decomporiam mais rapidamente no meio ambiente, o dirigente do Plastivida diz que não há estudos conclusivos no Brasil para saber se elas são mais eficientes nesse aspecto e, tão importante quanto, que tipo de resíduos deixam no meio ambiente.

Alex Babetto confirma que ainda há poucos trabalhos de pesquisa conclusivos sobre sacolinhas oxibiodegradáveis. Ele acredita, porém, que nos próximos 12 meses serão publicados estudos que talvez permitam análises mais precisas. Enquanto isso, concorda, é difícil substituir as sacolinhas em virtude do baixo custo e da praticidade que têm. Daí a preocupação dos pesquisadores em estudar polímeros que tenham um perfil mais sustentável que os disponíveis atualmente.
 

 





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