Acadêmicos criam cartilha para estimular estudo da nanotecnologia
Publicação é voltada para estudantes e professores do Ensino Médio
Como fazer com que alunos do Ensino Médio se interessem por conceitos e aplicações da nanotecnologia? Para solucionar esta questão, os professores Delmárcio Gomes da Silva e Henrique Eisi Toma desenvolveram um material didático que tornasse acessíveis conhecimentos tidos como “avançados” e restritos ao Ensino Superior. Disponível gratuitamente em versão digital no site www.ensinano.com.br, a cartilha Nanotecnologia para todos! terá exemplares impressos sorteados pelo Informativo.
Criada como um desdobramento do Projeto Ensinano, a publicação foi lançada em outubro de 2018, com apoios da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP e do programa Santander Universidades. A publicação traz, por meio de textos e ilustrações, um conjunto de dados que tornam o assunto mais palatável, orientando os estudantes sobre como esta tecnologia já se encontra em diversos produtos utilizados no cotidiano.
Delmárcio Gomes conta que foi estimulado pelo professor Toma, seu orientador no doutorado, a divulgar a nanotecnologia em instituições de Educação Básica. O interesse dos jovens estudantes foi verificado em visitas monitoradas aos laboratórios do Instituto de Química da USP e também durante palestras proferidas em escolas. Em 2017, ele foi convidado a ministrar uma disciplina eletiva de nanotecnologia para alunos do 3º ano do Ensino Médio no Colégio Santa Cruz, na Capital. Para essa experiência, elaborou um método de ensino específico, que adaptou conteúdos sobre nanociência para a realidade escolar.
A publicação da cartilha foi finalizada em um período de três meses e o escopo foi ampliado. “Percebemos que, para além do Ensino Médio, o material deveria também alcançar os alunos de Ensino Técnico, para que o conhecimento sobre o assunto chegasse a todos os estudantes antes do ingresso no Ensino Superior”, explica o pesquisador.
CONTEÚDO – A cartilha é iniciada pela apresentação dos conceitos matemáticos que envolvem escalas e tamanhos, a fim de fundamentar a noção do que é a dimensão nanométrica (1 nanômetro equivale a 1x10-9 metro). Em seguida, explica que, por mexer com materiais muito pequenos, essa área da Ciência faz uso de equipamentos especiais para trabalhar nessa escala. As diferenças entre o mundo macroscópico e o nanométrico são destacadas ao mostrar as diferentes propriedades que surgem nesses nanomateriais.
Conteúdo da publicação também se preocupa em ampliar a interação entre professores e alunos
A parte central da cartilha explica o que é nanociência e nanotecnologia, conectando o leitor à percepção de que há vários exemplos de seres vivos que evoluíram e, hoje, exploram os efeitos na nanoescala para criar funções ou produzirem efeitos que, às vezes, nem são percebidos. “Essa conexão é importante, pois desmistifica a ideia de que nano é algo artificial ou restrita aos laboratórios de pesquisa”, ressalta Gomes.
Por fim, são apresentados os principais tipos de nanopartículas e nanomateriais, trazendo em seguida vários exemplos de aplicações, tecnologias e inovações que estão sendo desenvolvidas graças aos avanços da nanotecnologia. “Colocamos em destaque no final da cartilha uma mensagem para as escolas e professores, chamando a atenção para a importância de se inserir o tema na Educação Básica”, conta o pesquisador.
Também são abordadas questões do Enem relacionadas à nanotecnologia. Segundo Gomes, desde 2015 a prova explora esse campo nos enunciados de algumas questões de Ciências da Natureza. Em 2018, três perguntas fizeram essa interface, envolvendo o grafeno, a nanotecnologia presente em moléculas e o funcionamento das células solares à base de nanopartículas.
Gomes salienta que a cartilha, por ser educativa e gratuita, pode ser uma ferramenta importante para os professores criarem uma atividade extracurricular nas escolas para debates e apresentações sobre esse tema.
DÉFICIT – Além de servir como forma de despertar o interesse de alunos, a cartilha também pretende auxiliar professores que, em muitos casos, não tiveram acesso a informações sobre esse campo de estudos. “É compreensível que haja um déficit de conhecimento sobre o assunto, pois no Brasil há uma carência de materiais didáticos sobre os diferentes aspectos dessa área da Ciência”, afirma Gomes.
Apesar dessa deficiência, o pesquisador defende a inserção da nanotecnologia na grade curricular dos cursos de Ensino Médio e Técnico. Ele acredita que o caráter multidisciplinar da Nanociência, que cria conexões entre diversas áreas como Química, Física, Matemática e Biologia, é uma característica que demonstra o potencial de utilização como instrumento didático.
Já em 2016, quando Gomes escreveu, juntamente com os professores Henrique Eisi Toma e Ulisses Condomitti, o livro Nanotecnologia Experimental (Editora Blucher), foi feito um trabalho com o intuito de estimular a capacitação de professores e alunos. A obra reúne 45 experimentos didáticos de nanotecnologia, divididos nos níveis básico, intermediário e avançado. “Ao categorizar os experimentos, propomos atividades que pudessem ser realizadas de acordo com a infraestrutura de cada laboratório escolar, curso técnico e universidade”, explica.
ENSINANO – Iniciado em 2012, o Projeto Ensinano foi planejado quando Delmárcio cursava as disciplinas eletivas de nanotecnologia do programa de doutorado que fez na USP. Ao ampliar a divulgação desse ramo da Ciência por meio de cursos e palestras, estruturadas em conjunto a coordenação e os docentes de Ciências Exatas das escolas de Nível Médio, sistematizou o projeto, que atua em consonância com a proposta educacional e o perfil dos alunos de cada instituição.
As aulas são ministradas semanalmente, ao longo de um semestre. Além do Colégio Santa Cruz, a disciplina eletiva também será oferecida neste ano às turmas de 1º e 2º ano do Colégio Dante Alighieri, também da Capital paulista. A proposta pedagógica inclui a parte teórica, integrada a exercícios baseados em conceitos ensinados nas disciplinas regulares, e atividades práticas que colocam os alunos em contato direto com os nanomateriais.
O Informativo CRQ-IV sorteará três exemplares da cartilha Nanotecnologia para Todos!, exclusivamente para profissionais que atuam como professores.
Para participar, envie e-mail para sorteio.crq4@gmail.com contendo nome, CPF, endereço
residencial com CEP e nome da Instituição de Ensino em que trabalha. No campo “Assunto” da mensagem escreva “Sorteio-Nano”.
O sorteio será realizado no dia 8 de março, sendo o resultado publicado no site do Conselho.