Busca
Faça uma busca por todo
o conteúdo do site:
   
Acesso à informação
Bolsa de Empregos
Concursos Públicos (CRQ-IV)
Consulta de Registros
Dia do Profissional da Química
Downloads
E-Prevenção
Espaços para Eventos
Informativos
Jurisprudência
Legislação
LGPD
Linha do Tempo
Links
Noticiário
PDQ
Prêmios
Prestação de Contas
Publicações
QuímicaViva
Selo de Qualidade
Simplifique
Sorteios
Termos de privacidade
Transparência Pública
 
História dos Cosméticos - Conselho Regional de Química - IV Região

História dos Cosméticos 

 


 
 

Hoje não se imagina a vida sem cosméticos. Cremes, loções, xampus e uma vasta gama de produtos fazem parte da rotina de higiene e beleza de milhões de pessoas, mas poucos consumidores se dão conta de que sem a química os cosméticos não existiriam. Os efeitos obtidos pelos cosméticos são resultados de componentes e reações químicas cuidadosamente estudados. Na verdade, a ciência cosmética é extremamente vasta porque trabalha com a inter-relação de muitas disciplinas, como a química, a dermatologia, a biologia, a farmácia e a medicina, além de ser diretamente afetada por hábitos culturais, moda e fatores econômicos.

A indústria de cosméticos adquiriu tal dimensão hoje que seus lucros são contabilizados em bilhões de dólares. A maior empresa do mundo é a L'Oréal, que faturou 24,6 bilhões de dólares em 2009, de acordo com o ranking Beauty´s TOP 100 da revista norte-americana WWD Beauty Biz, que lista as cem maiores empresas do setor. Atrás da L'Oréal vêm as gigantes Procter & Gamble, Unilever, Estée Lauder e Avon. A primeira brasileira que aparece no ranking é a Natura, na décima quinta posição, com cifras que também chegam aos bilhões: suas vendas somaram 2,16 bilhões de dólares em 2009. Para atingir estes números milionários e garantir sua presença na vida de milhões de pessoas, os cosméticos passaram por milênios de evolução, superando os obstáculos impostos pela falta de conhecimento científico, pelas barreiras culturais e pela falta de tecnologia.


História

A história dos cosméticos começa com os homens pré-históricos, que há 30 mil anos pintavam o corpo e se tatuavam. Usavam para isso terra, cascas de árvores, seiva de folhas esmagadas e orvalho. Na Antiguidade, placas de argila encontradas em escavações arqueológicas na Mesopotâmia trazem instruções sobre asseio corporal, já mostrando a importância dada à higiene. Mas tudo indica que foram os egípcios os primeiros a usar os cosméticos e produtos de toucador em larga escala. Há milhares de anos eles já empregavam óleo de castor como bálsamo protetor e tinham o hábito de tomar banho usando como sabão uma mistura perfumada à base de cinzas ou argila. Também usavam o khol (pigmento preto), um minério de antimônio ou manganês; o verde de malaquita, um minério de cobre, e o cinabre, um minério de sulfeto de mercúrio, para pintar os olhos e a face.

Os antigos egípcios também usavam extratos vegetais, como a henna. Eles tinham caixas de toalete para guardar seus cosméticos, e enterravam os faraós junto com seus cremes e poções de beleza. No sarcófago de Tutankhamon (1400 a.C.) foram encontrados cremes, incenso e potes de azeite usados na decoração e no tratamento.

Na Grécia antiga os banhos eram uma prática comum, e a higiene e o asseio eram valorizados. Nos manuscritos de Hipócrates já se encontram orientações sobre higiene, banhos de sol e de água e a importância do exercício físico. As palavras cosmético e cosmética originam-se do grego kosmétikos e do latim cosmetorium, ou de Cosmus, perfumista romano famoso do século I, que fabricava o cosmianum, ungüento antirrugas de grande fama, além de vários preparados. Durante o Império Romano, um médico grego chamado Galeno de Pérgamo (129 a 199 d.C.) desenvolveu um precursor dos modernos cremes para a pele a partir da mistura de cera de abelha, óleo de oliva e água de rosas. Galeno deu o nome de Unguentum Refrigerans a seu produto, na verdade um cold cream. O creme se funde em contato com a pele, liberando a fase interna aquosa, o que produz uma sensação refrescante. A mesma fórmula ainda é utilizada atualmente nas emulsões de água em óleo.



Idade Média

Com a decadência do império romano veio a Idade Média, um período em que o rigor religioso do cristianismo reprimiu o culto à higiene e a exaltação da beleza. Os hábitos de higiene foram abandonados porque o cristianismo ensinava que os males do corpo só poderiam ser curados com a intervenção divina. A chamada Idade das Trevas foi muito repressiva na Europa, e o uso de cosméticos desapareceu completamente. As Cruzadas devolveram a este período alguns costumes do culto à beleza, já que os cruzados traziam do oriente cosméticos e perfumes. Além disso, no início do período medieval a ocupação árabe na Península Ibérica fez com que certos hábitos de higiene fossem mantidos em cidades como Córdoba, Sevilha e Granada por questões religiosas: casas de banho, redes de esgoto e a limpeza pública continuaram a existir em alguns lugares por conta da religião dos muçulmanos.

No restante da Europa, no entanto, cidades e casas eram focos de sujeira, e as pessoas tomavam um banho a cada ano. A higiene pessoal resumia-se a lavar as mãos e o rosto antes das refeições e limpar os dentes com um pano. Acreditava-se nessa época que a água deixaria a pele suscetível a doenças, já que abriria os poros, permitindo a entrada de doenças. O padrão de beleza da época privilegiava a palidez, e as mulheres espalhavam compostos de arsênico e chumbo sobre a face para clareá-la. Sem dispor de cosméticos, elas usavam apenas leite, vinho, lama e pós sobre a pele. Em torno do ano 1300, na Inglaterra, cabelos tingidos de vermelho entram na moda.


Idade Moderna

O Renascimento, a invenção da tipografia e o descobrimento da América, no século XV, dão início a uma nova era, a Idade Moderna. O Humanismo, que coloca o homem como centro do universo, e o retorno aos valores da antiguidade clássica preconizado pelo Renascimento, trazem de volta a busca pela beleza e o florescimento das artes e do conhecimento. A religiosidade perdia força, e os pintores mostravam as mulheres saudáveis e belas. A Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, aparece sem sobrancelhas, face ampla e alva, com tez suave e delicada. Michelangelo retrata na Capela Sistina os anjos, apóstolos, Maria e outros personagens bíblicos com aparência clara, jovial, e a beleza em sua plenitude.

Itália e França despontam como grandes centros produtores de cosméticos, que são usados apenas pela aristocracia europeia por conta do alto preço. O arsênico passa a ser empregado como pó facial em substituição ao chumbo. No século XVI as mulheres europeias tentam clarear a pele usando uma grande variedade de produtos, incluindo tinta branca à base de chumbo. A Rainha Elizabeth I, da Inglaterra, que usava tinta branca com chumbo no rosto, popularizou o estilo chamado Máscara da Juventude.

Cabelos louros ganham popularidade porque são considerados angelicais. Os cabelos eram clareados com uma mistura de enxofre negro, alume e mel e deixados ao sol. Porém, a falta de higiene persiste, e os perfumes são criados para mascarar o forte odor corporal. A perfumaria ganha força na França e adquire grande importância para a economia francesa desde o reinado de Luiz XIV (1638-1715) utilizando ingredientes naturais. O perfume ganha força porque os europeus são aconselhados pelos médicos a tomar apenas um ou dois banhos por ano. A higiene, diziam os médicos, estaria garantida se fossem usadas apenas roupas limpas, já que lavar o corpo todo era desaconselhado para evitar as doenças.

As inovações técnicas do setor químico impulsionam a indústria de cosméticos. Em Paris, na Rua Saint Honoré, lojas vendiam cosméticos, depilatórios, pomadas, azeites, águas aromáticas, sabonetes e outros artigos de beleza. Mas o grande salto dos perfumes só aconteceu quando o italiano Giovanni Maria Farina, em 1725, estabeleceu-se em Colônia, na Alemanha, e criou a mais antiga perfumaria do mundo. Lá desenvolveu o perfume que chamou de Eau de Cologne em homenagem à cidade que o acolhera. O perfume de Farina se tornou o preferido das casas reais europeias do século XVIII, foi copiado mundo afora, e a denominação água de colônia virou sinônimo de perfume a partir daí.

Mesmo passada a Idade Média, uma nova onda de restrições ao embelezamento iria acontecer na Europa. Na Inglaterra do século XVI, o Puritanismo, liderado por Oliver Cromwell (1599-1658), provocou um período de obscurantismo, durante o qual o uso de cosméticos e perfumes foi banido. Mais tarde, em 1770, o parlamento inglês editaria um ato que restringiria o uso de cosméticos. Ele estabelecia: “qualquer mulher que... se imponha, seduza e atraia ao matrimônio qualquer um dos súditos de Sua Majestade por utilizar pinturas, perfumes, cosméticos, produtos de limpeza, dentes artificiais, cabelos falsos, espartilho de ferro, sapatos de saltos altos, enchimento nos quadris, irá incorrer nas penalidades previstas pela Lei contra a bruxaria e o casamento será considerado nulo e sem validade”.


Idade Contemporânea

Com o início da Idade Contemporânea, no século XIX, os cosméticos retomaram a popularidade. Eles ainda eram feitos em casa, e cada família tinha suas receitas favoritas para preparar sabonetes, água de rosas e creme de pepino. Com a evolução dos costumes as mulheres passaram a expor um pouco mais o corpo, mas mesmo assim ainda tomavam banho utilizando roupas longas. Indústrias começaram a fabricar as matérias-primas para a produção de cosméticos e produtos de higiene nos Estados Unidos, como a Colgate, na França, Japão, Inglaterra e Alemanha. 

Os principais marcos da preparação de bases para cremes no século XIX incluem a introdução da lanolina purificada por Liebreich e da vaselina por Cheseborough em 1870. Os salões de beleza ganham popularidade, mas muitas mulheres preferem entrar pela porta dos fundos para não sugerir que precisem de ajuda para parecer mais jovens.

No começo do século XX os cosméticos passaram da produção caseira para fabricação em quantidades maiores. A liberação da mulher foi o fator fundamental para o sucesso dos cosméticos prontos, já que elas não tinham mais tempo para produzi-los em casa. Assim, uma nova indústria surgiria para suprir esta demanda. Paralelamente a esse progresso tecnológico, os conhecimentos científicos contribuíram decisivamente para o desenvolvimento de numerosas fórmulas de preparações mais eficientes e seguras

 

O surgimento dos grandes nomes

David McConnell vendia livros de porta em porta, e dava uma pequena amostra de perfume a cada venda. Ele logo viu que seus clientes estavam mais interessados nos perfumes do que nos livros, e abriu a California Perfumes, em Nova York, em 1886. A empresa mais tarde seria rebatizada de Avon.

 Uma jovem polonesa chegada em Melbourne em 1902 levava potes de creme de fabricação familiar que auxiliava no cuidado da pele castigada pelo clima quente e seco da Austrália. Esta jovem, chamada Helena Rubinstein, abriu sua primeira loja na rua Collins, em Melbourne e mais tarde mudou-se para os Estados Unidos. Sua contribuição foi grandiosa para a emergente indústria cosmética.

A principal concorrente de Helena Rubinstein foi Florence Nightingale Graham, mais conhecida como Elizabeth Arden, uma canadense que em 1910 abriu seu primeiro salão Red Door em Nova York e criou um império com filiais em todo o mundo. Ambas foram desafiadas por Charles Revlon, que estabeleceu sua empresa, a Revlon, inicialmente com apenas um produto, conhecido então como verniz de unha. 

O primeiro creme para pele que utilizava água em óleo foi produzido em 1911; era o creme Nívea. O nome faz referência à cor branca do creme e relaciona-o à neve. Na primeira década do século XX, o imigrante polonês Max Factor começou produzindo maquiagem para teatro, na costa oeste dos Estados Unidos, mas logo percebeu o potencial de consumo entre as mulheres, e passou a fabricar seus produtos em 1920 para este mercado.

A palavra cosmetologia foi criada pelo Dr. Aurel Voine, durante o Congresso Internacional de Dermatologia de 1935 em Budapeste. Segundo ele, cosmetologia é o conjunto das ciências do embelezamento e suas implicações dermatológicas, biológicas, químicas, farmacêuticas, médicas e médico-sociais.


Século XX
 

Nas últimas décadas do século XX a maquiagem passa a acompanhar de perto as cores da alta costura, e o filtro solar ganha importância para prevenir os danos provocados pelo excesso de sol. Os consumidores tornam-se cada vez mais exigentes: querem ressaltar sua beleza natural com fórmulas mais leves e obter resultados mais rápidos; se antes esperava-se um mês para ver os resultados de cremes e loções, agora os benefícios aparecem em até 24 horas. Os cosméticos não apenas cobrem as imperfeições, mas controlam rugas e escondem as marcas do tempo. A partir de 1990 começa a batalha contra a celulite com o uso de cremes específicos, e bastante caros. Também é o tempo dos auto-bronzeadores. Celebridades, esportistas, atrizes e modelos lançam suas próprias linhas de cosméticos para ousar em relação a cores e tons de maquiagens. Isabella Rossellini, demitida como modelo oficial da Lancôme por estar ?muito velha? aos 43 anos, lança um manifesto garantindo que mulheres de todas as idades podem ser belas. Surgem os cosméticos multifuncionais, como o batom e o condicionador com protetor solar e o hidratante que previne o envelhecimento.

Uma das maiores revoluções do século XX data de 1995, quando a nanotecnologia entra pela primeira vez na fórmula dos cosméticos. A Lancôme, divisão de produtos de luxo da L?Oreal, lança um creme facial com nanocápsulas de vitamina E para combater o envelhecimento usando uma fórmula desenvolvida e patenteada pela Universidade de Paris. A partir daí as maiores empresas mundiais de cosméticos começam a investir em pesquisa e desenvolvimento de diversas linhas de produtos que utilizam a nanotecnologia.

Outra característica dos anos 90 foi o fortalecimento de linhas de produtos feitos com ingredientes naturais. Ingredientes amazônicos, como a castanha do pará, guaraná e andiroba, ganham espaço na preferência dos consumidores em produtos como cremes, xampus e perfumaria. Mais uma vez o trabalho dos químicos é importante para obtenção dos extratos puros das plantas, de proteínas a baixo custo e criação de novos sistemas de transferência de ativos.


Século XXI

Os nanocosméticos entram no século XXI já como um setor específico da indústria química juntamente com os produtos de higiene pessoal e perfumaria. A produção de nanocosméticos está mundialmente inserida na indústria de cosméticos convencionais, constituindo, de maneira geral, uma linha de produtos diferenciados. Um nanocosmético pode ser definido como sendo uma formulação cosmética que veicula ativos ou outros ingredientes nanoestruturados com propriedades superiores em sua performance em comparação com produtos convencionais. A escala nanométrica corresponde à bilionésima parte do metro. Os nanocosméticos têm várias vantagens sobre os cosméticos convencionais, como melhor penetração nas camadas mais internas da pele onde os ativos são mais necessários, e uma distribuição mais homogênea das substâncias. Por exemplo, formulações de protetores solares com TiO2 nanoparticulado prometem tornar esses produtos mais eficientes.

Além da nanotecnologia, o que marca o século XXI é o envelhecimento da população, que junto traz a tendência de as pessoas quererem parecer mais jovens. Com isso, os cremes anti-idade ganham importância. Os alfa-hidroxiácidos, utilizados em cremes para renovar a pele, tendem a ser substituídos por enzimas, que são mais eficazes. As cirurgias cosméticas e tratamentos como implantes de colágeno e injeções de botox para reduzir rugas e marcas de expressão são outro fenômeno da atualidade.

Na maquiagem, o uso de matéria-prima mineral para a pintura de pele ganha força com o aprofundamento das pesquisas e a exploração das propriedades presentes nas argilas, nos óxidos, dióxidos, micas, malaquitas, no magnésio e até em pedras semipreciosas, como a ametista, a safira e a turmalina. O dióxido de titânio – pigmento branco – é usado em praticamente todas as maquiagens e também na fabricação de protetores solares, já que cria uma barreira sobre a pele, bloqueando de forma física a radiação solar.

 

Bibliografia

 
 
 
Carlos Alberto Trevisan
Engenheiro Químico
 

Publicado em 14/04/2011


 

 

 

Compartilhe:

Copyright CRQ4 - Conselho Regional de Química 4ª Região