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Jan/Fev 2009 

 


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Falta de interesse mina cursos de licenciatura
Autor(a): por Ana Carolina Coutinho


Coordenador do 4º Fórum de Coordenadores de Cursos de Graduação em Química, promovido em outubro de 2008 na sede do Conselho, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), César Zucco, falou ao Informativo CRQ-IV sobre a situação dos cursos de licenciatura em química. Ele apontou falhas graves na formação dos futuros professores, a começar pelo pouco interesse das universidades e de muitos mestres, que concentram suas atenções no status que as pesquisas que desenvolvem podem gerar, deixando em segundo plano a qualidades de suas aulas.  
 

Quais foram as principais queixas apontadas pelos coordenadores dos cursos de graduação durante o Fórum?


Eles realmente apontaram o descompromisso da maioria dos professores dos cursos de licenciatura. O pessoal tem muito mais dedicação para os cursos que não são de licenciatura. E, também, sobretudo nas Universidades grandes e consolidadas, você tem um corpo docente de 50 a 60 professores fortemente atrelados à pós-graduação. É horrível, pois eles se preocupam muito com a pós-graduação e com a pesquisa - obviamente - e não querem despender tempo para com a graduação. Isso é uma coisa notória.

Quais são as alternativas para modificar essa falta de compromisso?

Formar mais grupos interessados no processo pedagógico do ensino de Química é uma boa possibilidade. E há tantas outras... É necessário começar a beneficiar os professores que estão engajados no ensino. Isso pode parecer contraditório, porque o professor está lá para ser professor, mas quando ele deve se dedicar à docência ele se nega a fazer ou não faz bem! Isso é um problema, e, na prática, é mais ou menos assim, na hora de exercer a docência, ele praticamente se nega ou não faz bem como ele faz, digamos, a pesquisa.

As bolsas oferecidas para pesquisadores, por exemplo, podem ser uma das causas desse problema?


Não é a bolsa em si, mas o status. A produção que se deve fazer atrapalha. Porque o professor precisa produzir e vai chegar uma hora em que ele não vai ter mais tempo para fazer outra coisa. Então, ele deixa de fazer uma série de outras coisas para fazer a pesquisa. E uma das coisas que ele deixa de fazer também é dar aula, por exemplo, para a licenciatura. O professor do ensino médio ou o professor em si deve ser formado num ambiente propício, específico para aquilo. Não se deve formar um professor como se forma um pesquisador. A licenciatura não deve ser um apêndice, um penduricalho de outro curso, ela precisa se constituir num curso. Estamos questionando como têm sido elaborados os currículos de bacharelado e licenciatura. Vamos supor que você comece um curso igual: bacharelado e licenciatura. Quando chega lá no 3º ano, o aluno da licenciatura tem uma ou outra disciplina diferente do aluno do bacharelado. O licenciado deveria ter muito mais fundamentação, muito mais disciplinas pedagógicas, didáticas, de formação humanística: filosofia, sociologia, psicologia da aprendizagem... É um conteúdo grande. Só que ele precisa absorver isso desde o início, vivenciar esse conteúdo desde o início. Por quê? Porque ele vai ser professor. Com as diretrizes curriculares já houve uma mudança, mas muitos cursos ainda têm pequenas diferenças, é aquele negócio de formar 3 em 1: faz um curso e ganha três habilitações.

Mas mesmo com a orientação das diretrizes curriculares, por que as escolas insistem em montar grades similares para licenciatura e bacharelado?

O problema é que muitas instituições não têm infraestrutura. Por exemplo, para você formar exclusivamente um professor de química, vai precisar duplicar muitas disciplinas. Precisará ter vários professores, porque você vai ter professor de química orgânica, analítica etc, para licenciatura e também para bacharelado. É uma complicação. E por que estamos dizendo que o professor tem que se formar num ambiente específico? Porque ele tem que aprender o conteúdo e, ao mesmo tempo, saber como é que o levará para a sala de aula. Isso se chama transposição.

O que os participantes do fórum discutiram no sentido de reverter esse quadro?

Foram levantados diversos pontos. Por exemplo, nós precisamos fazer com que o aluno da licenciatura passe bastante tempo com o aluno do ensino médio. Ele precisa ir lá e criar seus programas, a sua forma de atuar junto aos alunos. O que é necessário para fazer isso? É exatamente um ponto como este que precisamos discutir. Nós vamos buscar alternativas para que essa aproximação do aluno da licenciatura com o ensino médio se efetive. Por isso precisamos ter um projeto. Outra coisa: como poderemos atuar diretamente no professor que não é o nosso aluno, mas é professor do ensino médio? Então, os nossos próprios alunos [de graduação] poderão ter um papel muito importante no relacionamento com o professor do ensino médio. Como é que vamos fazer isso? O que é necessário? Quais são os recursos para isso? Por exemplo, a produção de material para o ensino médio, isso somos nós que temos que fazer. Foi falado aqui [no fórum], por exemplo, que os professores do ensino médio de um Estado se reuniram para escrever um livro de química que deveria ser adotado. E o coordenador [que levantou o assunto no fórum] colocou claramente que, ao abrir o livro, nas primeiras páginas, o que ele mais encontrou foram erros. Não é fácil escrever um livro, mesmo porque não significa que você não conheça o conteúdo, mas a forma de escrever e transmitir esse conteúdo é muito complicada. Escrever esse conteúdo para alguém que tem o nível relativamente baixo é mais complicado ainda. E foi o que ocorreu, os professores escreveram da forma e com o grau de conhecimento que eles tinham. O livro era - com o perdão da palavra - uma porcaria.

Além das falhas na formação do professor, que outros problemas influenciam negativamente o ensino da química e que podem ser corrigidos?

Diria que o que falta ao professor de química é esse contato mais direto com a realidade. As escolas do ensino médio, geralmente, não são bem equipadas. Faltam equipamentos, infraestrutura de todo o tipo e um bom ambiente de trabalho. Isso pode se construir com certa rapidez. O que nos preocupa, por outro lado, é o bem-estar do professor. O professor do ensino médio tem um salário muito baixo. Ninguém está pedindo salários estratosféricos, mas R$ 950,00, como está proposto para 2010, é um valor ainda muito baixo e você não irá conseguir convencer as pessoas a serem professores. Devemos criar uma estrutura tal no ensino, para que possamos começar um novo perfil do professor, que passe por estes pontos: salários dignos, bom ambiente de trabalho e educação continuada, ou seja, a valorização da carreira. Este é o ponto principal e que poderá ser usado para convencer os melhores alunos, egressos do ensino médio, a entrarem para o magistério, que é uma profissão lindíssima, mas que hoje não tem atrativos.

Outro ponto discutido no fórum foi a elevada evasão dos cursos de química. Quais são as causas?

São diversas as razões. Primeiro, o aluno, quando ingressa num determinado curso, muitas vezes não tem conhecimento exato do que aquele curso significa. Ele desconhece a realidade e faz uma escolha errada. Segundo, o aluno entra na universidade mal preparado. Ele chega e é uma realidade completamente diferente da dele, a sistemática de ensino é diferente. Na universidade você deixa o aluno muito mais para si, ele tem que ser muito mais o agente da aprendizagem. Se não tiver esse espírito, esse preparo, ele pode se arrepender totalmente. E, sendo fraco, ele vai embora. Ninguém vai querer ficar num curso tirando notas baixíssimas, não conseguindo se comunicar, sem rumo e isso só pode dar evasão. Outro ponto: a universidade, mesmo sabendo que o ensino médio não prepara devidamente os alunos, na maioria dos cursos, não oferece programas de recuperação. Quer dizer: você não dá uma chance para alguém que poderia melhorar recuperar-se. A universidade parte de um patamar e se você não chegou ali azar o seu. Isso não é uma atitude correta, pois o aluno não é o culpado. O sistema é o culpado. E como sabemos que existe essa falha, poderíamos trabalhar nisso de maneira melhor. Outra razão: a péssima qualidade dos professores. Não da qualidade de conteúdo, mas daquilo que estávamos falando, o professor não se interessa pelo aluno. Todo professor deveria ter interesse e não tem. Então, ele passa a ser um professor ruim. Ele ensina da forma que acha melhor, não está nem aí. Isso é outro motivo para evasão. Há, também, a condição socioeconômica. De repente o aluno entra e, mesmo que a universidade seja pública, ele não tem condições de subsistir na cidade onde está. Além disso, ainda tem outro motivo que, embora não seja citado nas pesquisas, também pode ser causa: é o "desvio", digamos assim, de conduta do jovem. Ele sai de casa despreparado emocionalmente e quando chega lá, sozinho, encontra uns "amigos"... Essa é a preocupação. Acho que a universidade deveria abrir os olhos para isso também.

Na própria universidade, portanto, estariam boa parte dos elementos necessários para reduzir a evasão?

Todo mundo sabe que a qualidade da educação está exatamente no nível de qualidade de seus professores. Você nunca vai ter boa educação se não tiver bons professores. Tem gente que fala que não, aponta as tecnologias etc. Mas tecnologia não fala; tecnologia não sente; tecnologia não se expressa... Tecnologia está aí para ser usada como meio, mas não é o fim de nada. Trabalhamos com seres humanos e aí você tem o afeto, o relacionamento, a interação, isso é fundamental. Não existe outra profissão que tenha esses vínculos tão fortes. Por isso nós precisamos de bons professores, de professores bem formados.

O senhor é professor há mais de 30 anos. Qual a diferença entre o ensino daquela época e o atual?

Infelizmente, não mudou muito. E esse é o problema. Não é o mesmo caderno, mas a ideia é a mesma, o procedimento é mesmo, a postura é a mesma. O perfil do professor de hoje é mais ou menos aquele mesmo perfil e aí.
 




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