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Nov/Dez 2007 

 


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Pesquisadores criam desinfetante feito de água e sal


 

Água e sal. Com estas duas simples matérias-primas, pesquisadores de empresas ligadas ao Centro Incubador de Empresa Tecnológicas (Cietec) da USP estão desenvolvendo um sistema de desinfecção de endoscópios – instrumentos usados por médicos em exames dos aparelhos digestivo e respiratório. A promessa é tornar o processo mais rápido e menos nocivo ao meio ambiente e à saúde de quem faz a limpeza do instrumento.

Atualmente, o glutaraldeído é o principal saneante usado na desinfecção de endoscópios e de outros aparelhos de uso médico e odontológico. A substância, contudo, é nociva ao meio ambiente e causa efeitos adversos aos profissionais que a manuseiam. Náuseas, cefaléia, obstrução das vias aéreas, asma, rinite, irritação dos olhos, dermatite e descoloração da pele são os mais comuns relatados pela Organização Mundial da Saúde, segundo o Informe Técnico 04/2007 publicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em abril deste ano.

O projeto para desenvolver o novo sistema de desinfecção foi parcialmente financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e coordenado pelo Bacharel e Engenheiro Químico Gerhard Ett, que é diretor da Electrocell, empresa do Cietec especializada na produção de células a combustível. Ett trabalhou ao lado do empresário Luis Iba, da Ibasil, que desde 1991 atua no desenvolvimento e venda de aparelhos de endoscopia.

Com o apoio de uma equipe formada por profissionais de várias áreas, Ett e Iba projetaram um aparelho que converte a solução de água e sal num desinfetante composto por doze substâncias, entre elas o ácido hipocloroso, o ozônio, o ácido perclórico e o cloreto. Essa transformação é resultado de uma reação química por eletrólise que ocorre dentro de uma célula eletrolítica instalada no aparelho. “Trata-se de um reator eletroquímico”, explica Ett. (Veja como funciona a célula eletrolítica, na ilustração do final desta página)

Com alto grau de automação, o próprio aparelho recupera as propriedades do desinfetante e faz com que ele seja reutilizado nos processos de limpeza seguintes. A mesma “água superoxidante”, como está sendo chamado o desinfetante, pode ser usada até cinco vezes, passando pela célula eletrolítica para que suas propriedades sejam reativadas. Quando for necessário descartá-la, o médico ou enfermeiro poderá simplesmente jogá-la na rede de esgoto, sem riscos para o meio ambiente. O desinfetante é neutralizado no próprio equipamento que o produz.

Testes realizados em laboratórios acreditados pela Anvisa e no Hospital das Clínicas de São Paulo constataram que o sistema é capaz de desinfetar um endoscópio em apenas sete minutos – ou seja, quatro vezes mais rápido do que o glutaraldeído, que leva cerca de 30 minutos. Segundo Iba, o tempo gasto no processo de desinfecção é uma reclamação constante dos médicos, que ficavam impedidos de realizar novos exames enquanto não se completava o processo de limpeza.

Mas como ninguém antes pensou em usar uma matéria-prima tão simples, uma solução de água e sal, para desinfetar instrumentos médicos? Iba diz que muitos já tentaram criar um sistema com essa finalidade, porém esbarraram numa dificuldade: os mesmos agentes que limpam podem provocar a corrosão do endoscópio e do aparelho de desinfecção.

“Nós tivemos de fazer vários testes até verificar qual era a melhor razão entre ausência de corrosão e poder bactericida”, conta Ett. Iba complementa: “Uma coisa é fazer a eletrólise em laboratório, com os eletrodos num béquer; outra coisa é fazê-la num processo contínuo que precisa ser confiável durante 15 ou 20 anos, sem que haja corrosão no equipamento e garantindo que o produto gerado seja mesmo um desinfetante”.

Para solucionar esses problemas, os pesquisadores investiram nos materiais com que é produzida a célula eletrolítica. Os eletrodos, por exemplo, são feitos de titânio revestido por óxidos catalisadores da reação. “Além disso, trabalhamos com alguns inibidores de corrosão, que potencializam o poder bactericida do produto”, acrescenta o Engenheiro Químico Gerhard Ett.

Controle - Outro recurso importante do equipamento é o controle total das condições em que ocorre a reação: temperatura, pH, condutividade, potencial de oxiredução (redox). Todos esses fatores são medidos automaticamente pelo aparelho, que se ajusta para gerar um desinfetante eficaz e, ao mesmo tempo, não corrosivo. Essa automatização só foi pos- sível com a associação da Química a outras áreas como a eletrônica, a biologia e a informática.

A equipe do projeto acredita que os centros de diagnósticos terão de esperar pelo menos mais um ano para poder adquirir o aparelho. Ele ainda passará por alguns testes e o desinfetante precisará ser registrado na Anvisa. Os pesquisadores garantem que ele chegará ao mercado num tamanho bem menor do que o do equipamento exibido na fotografia acima, que é apenas um protótipo.

A estimativa é que o sistema de desinfecção criado no Cietec custe cerca de R$ 20 mil – bem menos do que as máquinas japonesas que, segundo Luis Iba, não saem hoje por menos de R$ 70 mil.

Também haverá economia na matéria-prima para produção do desinfetante. A solução a 2% de glutaraldeído custa cerca de R$ 5,00 por litro e pode ser reutilizada durante um prazo de até 28 dias. De acordo com Iba, o produto tradicional começa a perder sua eficácia após 30 processos de desinfecção em sistemas automatizados. Já o litro do desinfetante formado a partir da solução de água e sal deve sair por menos de R$ 0,01, considerando-se os gastos com energia elétrica. No caso da limpeza de endoscópios, ele poderá ser reutilizado em até cinco processos.

Retorno - Embora tenha sido desenvolvido para desinfecção de endoscópios, o produto gerado por eletrólise com solução de água e sal poderá ser usado em outras aplicações, tais como a lavagem de frutas e verduras e até no tratamento de efluentes.

A idéia dos pesquisadores é transferir tecnologia para empresas de diversos segmentos para que ela seja popularizada. Na opinião deles, uma vez que o projeto contou com recursos públicos disponibilizados pela Fapesp, deve ser empregado em várias áreas, permitindo o retorno dos investimentos em benefícios para a população.

 

Célula Eletrolítica - Formadas a partir da eletrólise da solução de água e sal, as moléculas em amarelo compõem o desinfetante. A membrana seletiva separa da solução o Na+ e o H+, que vão formar uma água alcalina que ficará armazenada em um outro compartimento. Depois de usado, o desinfetante será misturado à essa água e, então, encaminhado para reúso ou descarte. Durante todo o processo, condutividade, temperatura, pH e potencial de oxiredução (redox) são monitorados para garantir a eficácia do produto.
 





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