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Set/Out 2020 

 


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Artigo - Covid-19: perigos ocultos e, desta vez, somados...
Autor(a): Oswaldo Luiz Alves


JN Environmental/UK

Responsável pela chamada “Doença do Legionário”, a bactéria Legionella pneumophila causa uma forma agressiva e, às vezes, até fatal de pneumonia

 

 

Em função da pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), responsável pela Covid-19, muitas instituições, dentre elas escolas, universidades, academias, estádios, ginásios esportivos e empresas, interromperam suas atividades e, consequentemente, as instalações sanitárias, como banheiros (vasos), pias, chuveiros etc., deixaram de ser utilizadas.
 

Tal situação começa a preocupar as autoridades responsáveis pela administração destes edifícios e, também, autoridades da saúde. Tais ambientes ficaram bastante tempo sem uso e acreditamos que começarão logo a ser ocupados, em função da retomada gradual das atividades presenciais.
 

Várias questões surgem. Dentre elas, destacamos a situação das instalações hidráulicas deixadas sem uso, consequentemente sem fluxo de água, desde o fechamento dos prédios. A falta de limpeza e ausência de sanitizantes, ocorrida na maioria das vezes, pode criar uma situação altamente propícia ao desenvolvimento de microrganismos patogênicos, o que vem chamando a atenção de vários especialistas.
 

A situação fica aparentemente mais crítica quando consideramos o trabalho de um grupo de pesquisadores da Universidade de Yangzhou, na China, que relatou recentemente que o uso da descarga em banheiros públicos pode liberar nuvens de aerossóis carregados de vírus, que podem ser inalados pelo usuário.
 

Segundo estes pesquisadores, banheiros públicos podem se constituir como locais perigosos para alguém potencialmente vir a se infectar com um vírus, mormente durante a pandemia da Covid-19. Assim, com a transmissão do vírus a partir das fezes e da urina sendo possível, o uso de máscara é absolutamente mandatório (1 e 2).
 

Neste contexto, ressalte-se ainda texto apresentado na revista Clinical Infectious Diseases e co-assinado por 239 cientistas de todo o mundo, pedindo às autoridades de saúde que reconheçam que a Covid-19 pode ser disseminada por transmissão aérea. Os cientistas pedem “medidas de mitigação maiores para controlar a propagação do vírus no ar em ambientes fechados” (3).
 

Voltando à questão inicial da retomada, os reservatórios de água e suas canalizações – sobretudo em situações em que não se tem o uso continuado ou processos de descarga regulares –, se constituem no local ideal para o desenvolvimento da bactéria Legionella pneumophila, notadamente conhecida como fatal e responsável pela chamada “Doença do Legionário” (4): uma forma grave, agressiva e às vezes fatal de pneumonia. Essa bactéria pode, em princípio, se espalhar pelo simples ato de acionar a descarga, ou mesmo abrir uma torneira, dado que os banheiros via de regra, não costumam ter ventilação natural adequada.
 

Pixabay

Descarga pode liberar nuvens de aerossóis carregadas de vírus  

Algumas instituições, dentre elas a Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, acabam de receber financiamento da National Science Foundation para um estudo interdisciplinar envolvendo esses problemas (in)diretos causados pela pandemia.

 

Segundo Sarah Haig, professora de Engenharia Civil e Ambiental e participante do projeto, normalmente a água potável que abastece os edifícios contém um resíduo desinfetante, como o cloro, para ajudar a prevenir e reduzir o crescimento microbiano. “No entanto, as mudanças na química da água, devido aos longos períodos sem uso de água (estagnação) recentemente observados em todo o mundo durante a pandemia de Covid-19, terão consequências inesperadas na qualidade das águas usadas nas instalações hidráulico-sanitárias prediais”, afirmou.
 

Os aspectos comentados neste texto visaram levantar algumas questões paralelas associadas à volta presencial às atividades e, ao mesmo tempo, apontar para o fato de que a pandemia ainda está fortemente presente em nosso meio. Fica claro que existem muitos outros componentes, tão importantes quanto a questão sanitária, ligados à economia, ao aspecto social e ao político. Nesta retomada, precisamos, com todas estas variáveis, fazer face à alta complexidade deste processo. Trata-se de uma trágica situação de emergência.
 

LEMBRETE FINAL: NUNCA use água sanitária (à base de hipoclorito de sódio) e desinfetantes (à base de amônia) “juntos e misturados” na limpeza doméstica ou profissional. Do contato destes dois produtos ocorre a liberação de gases (cloroaminas) que, uma vez inalados, podem trazer problemas à saúde, entre os quais sérias intoxicações (*).

 

Para saber mais


(1) Ji-Xiang Wang, Yun-Yun Li, XiangDong Liu and Xiang Cao, Virus transmission from urinals, Physics of Fluids 32, 081703 (2020).


(2) Yun-yun Li , Ji-Xiang Wang and Xi Chen, Can a toilet promote virus transmission? From a fluid dynamics perspective, Physics of Fluids 32, 065107 (2020).
 

(3) Lidia Morawska and Donald K. Milton, It is time to address airborne transmission of COVID-19, Clinical Infectious Diseases, ciaa939 (2020).


(4) Legionnaires’ Disease and Pontiac Fever: Causes and Transmission. CDC. 9 de março de 2016. Consultado em 06 de setembro de 2020.

 

 

Entre outras várias qualificações, o autor é professor titular do Instituto de Química e Coordenador Científico do Laboratório de Química do Estado Sólido, ambos da Unicamp. Vencedor do Prêmio Fritz Feigl de 2005, outorgado pelo CRQ-IV, é vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências/SP.


(*) NR: esta e outras informações sobre o uso correto da água sanitária em processos de desinfecção estão disponíveis na cartilha lançada este ano pelo Conselho Federal de Química como material de apoio para combater a Covid-19. Confira clicando na imagem abaixo.








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