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Set/Out 2019 

 


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A empregabilidade na era digital
Autor(a): Claudio Luis Muller


Ilustração: Gerd Altmann/Pixabay

As perguntas mais frequentes do profissional no mercado e principalmente do que está entrando no mercado são: como será a empregabilidade no futuro? Haverá empregos? Haverá estabilidade? Renda mínima? O que eu conheço hoje será importante no futuro? Como me preparar? Respostas para essas questões são poucas e muitas previsões são feitas a partir de tendências.

Desde a chamada Revolução 1.0 houve questionamentos sobre o fim dos empregos. Historicamente nenhuma revolução diminui o emprego. Pelo contrário, aumenta a oferta. Porém, houve uma mudança radical do tipo de emprego oferecido. E parte deste aumento foi devido ao crescimento do mercado consumidor. Com mais profissionais, maior o poder de consumo.

Ao longo da evolução, o homem migrou do campo, precisou especializar-se, entender métodos, desenvolver novas habilidades. Então, baseado em aspectos históricos, a única certeza é de que o emprego como conhecemos irá mudar mais uma vez. E novas habilidades e conhecimentos serão necessários.

Ainda há confusão de termos sobre o que seria transformação digital e jornada à excelência operacional. Basicamente, conforme definido na edição anterior deste Informativo, transformação digital é fazer um processo de forma diferente, de uma forma não pensada antes, disruptiva. Compartilhamento de carros por aplicativos é uma inovação do mercado de transporte coletivo. Aumento de eficiência energética de um processo pela utilização de algoritmos de análise é um avanço rumo à excelência operacional, mas não necessariamente uma inovação. O método numérico utilizado, o método de coleta das informações, tratamento de dados, sensoriamento, comunicação de sistemas utilizados até podem ser consequências de transformações digitais. O resultado do cálculo de eficiência, embora um benefício ao processo, não é considerada transformação ou inovação.

Avaliando o mercado unicamente pelos dois conceitos acima – de transformação e excelência operacional – é possível imaginar um futuro promissor em pelo menos dois aspectos: empreendedorismo e crescimento de pequenas e médias empresas.

Segundo um levantamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), o Brasil possui mais de 10 mil startups, sendo o terceiro país mais empreendedor, atrás de China e Estados Unidos. Estima-se que 27 milhões de brasileiros estejam empenhados em ter o negócio próprio.

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), dos 27 milhões de empreendedores existentes no País, 85% estão no mercado há mais de três meses. Desses, 12 milhões, o equivalente a 45%, estão estabelecidos em seus segmentos de atuação, ou seja, operam no mercado há mais de 42 meses. Outros 11 milhões, 40% do total, são classificados como novos empreendimentos por funcionarem há mais de três meses e menos de 42 meses. Importante ressaltar que, segundo o Dieese, 2/3 dos empregos de iniciativa privada no Brasil são de pequenos e micronegócios.

Entre as startups brasileiras, seis empresas já são avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares: Nubank, 99, iFood, Pag-Seguro, Movile e Stone. Outras nove devem alcançar esta cifra em 2019, entre elas a Quinto Andar e a Yellow. Estas empresas, que ultrapassam a casa do 1 bilhão de dólares, são chamadas de “unicórnios”.

Por outro lado, segundo a CB Insights, uma plataforma de análise de dados de mercado, as três maiores causas de falha de uma startup são: baixa necessidade do mercado aliada a uma análise errada da oportunidade, falta de capital e falta de profissionais adequados.

Uma das principais características dos empreendedores que tiveram sucesso é que a maioria entrou no mercado por ter identificado uma oportunidade e não por necessidade. Este processo de identificação de oportunidades e o baixo capital de início somente foram possíveis por inovações da era digital como acesso a bancos de informação, adoção da metodologia digital twins (versão virtual de um objeto físico ou mesmo de um processo organizacional), conectividade etc.

No setor de químicos, startups ligadas a nanotecnologia, energias limpas e biotecnologia têm sido as mais promissoras. Algumas apostas do mercado e que devem estar entre os próximos unicórnios: Arrakis Therapeutics (decodificação de RNA); Boragen (pesticidas a base de boro); Citrine Informatics (inteligência artificial para pesquisa de novos materiais) e Ecovia Renewables (biotransformadores). E algumas brasileiras: Brasil Ozônio (soluções de baixo custo para tratamento de água, efluentes e ar); Genera (testes laboratoriais) e Itatijuca Biotech (tratamento de rejeitos e minérios).

Por outro lado, nem todos os profissionais têm o perfil empreendedor. Para estes, a boa notícia é que a chamada revolução digital está apenas começando. Todas as inovações que vêm surgindo são resultado de uma pequena parcela de sistemas integrados (a chamada “camada de inteligência”). Estima-se que apenas 15% dos sistemas estejam realmente integrados. Nos próximos dez anos, deverão ser 50% dos sistemas integrados. Quantas outras oportunidades e necessidades poderão surgir?

Com a redução dos custos de sensoriamento e comunicação, empresas que hoje são pouco digitalizadas passarão por um processo de evolução que irá exigir profissionais mais capacitados. Empresas que hoje não empregam profissionais técnicos terão a necessidade de empregá-los pelo aumento da complexidade de seus sistemas. Se hoje uma empresa de detergentes, com processos pouco automatizados, emprega profissionais de menor capacitação, com sistemas mais inteligentes também necessitará de profissionais mais capacitados.

Por fim, o maior dilema dos profissionais é se hoje as máquinas substituirão o ser humano. Nesta área, inteligência artificial e machine learning são os grandes paradigmas. As máquinas passam não apenas a repetir atividades programadas, mas também a “aprender” com base em padrões e tendências que não são observadas pelo ser humano.

Neste cenário, é provável que todas as profissões sofram concorrência de sistemas inteligentes, mas, em um primeiro momento, apenas atividades repetitivas deverão ser substituídas por máquinas. Porém, segundo a consultoria norte-americana McKinsey & Company, apenas 10% das atividades podem ser até 90% automatizadas. Entre as atividades com maior possibilidade de reduzir a oferta de postos de trabalho, destacam-se aquelas ligadas a manufatura, mineração, hotelaria e transporte. Por outro lado, muitas outras atividades ligadas à programação destes sistemas, ciência e segurança de dados surgirão.

Para os trabalhadores que não são empreendedores, a manutenção da empregabilidade está em entender quais as características desejáveis de um profissional da era da Indústria 4.0.

Ainda segundo a McKinsey, nos últimos 50 anos, as características mais desejáveis em um profissional evoluíram de habilidades físicas e manuais para habilidades cognitivas básicas. Se antes eram desejáveis profissionais que soubessem levantar cargas e abrir túneis, hoje espera-se que saibam resolver incidentes e avaliar métricas e relatórios.

Analisando a oferta de vagas na maior rede de profissionais, o LinkedIn, entre 2012 e 2016 houve uma brusca mudança no perfil de profissionais procurado. Se até 2012 apenas 3% das vagas ofertadas solicitavam capacidade de gestão de pessoas, em 2016, 24% das vagas já exigiam esta habilidade.

Outras habilidades do profissional da Indústria 4.0 que passaram a ser desejadas são planejamento estratégico e liderança. Entre as que perderam espaço estão contabilidade, desenvolvimento de relatórios financeiros e auditoria.

Em resumo, embora máquinas e inteligência de dados possam reduzir empregos, a tendência é que novos empregos surjam na mesma ou maior proporção. Máquinas ainda terão um longo caminho para substituir a criatividade e habilidade de adaptação humana. Com a maior segmentação e velocidade de chegada de produtos ao mercado, novos profissionais serão necessários. A chave é sempre buscar a atualização e observação das demandas.

 

O autor é Eng. Químico, mestre em Processos Petroquímicos e neste ano integra o time de palestrantes do Momento Q, iniciativa do Conselho Federal de Química. Contatos podem ser feitos pelo e-mail engcmuller@gmail.com.

 

 

 

 





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