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Química Farmacêutica - Nobel de Química diz que futuro da Medicina é a personalização


CRQ-IV

Ciechanover: revolução na Medicina focará a personalização dos cuidados e a prevenção de doenças

Em palestra com o tema “O Sistema Proteolítico Ubiquitina: de mecanismos básicos a doenças humanas, até o desenvolvimento de medicamentos”, proferida em 9 de agosto no Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo, o Bioquímico israelense Aaron Ciechanover, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Química em 2004, ressaltou a iminência de uma revolução na história da Medicina moderna, com foco na personalização dos cuidados médicos e na prevenção de doenças.

O evento, que teve o apoio da multinacional biofarmacêutica AstraZeneca, integrou o programa Nobel Prize Inspiration Initiative, que leva laureados a universidades e centros de pesquisa ao redor do mundo, visando despertar o interesse de jovens pesquisadores sobre Ciência. Ciechanover também ministrou palestras nos dias 10 e 11 de agosto, respectivamente em Brasília e no Rio de Janeiro. Na capital federal, apresentou-se na Universidade de Brasília (UnB), onde recebeu o título de “Doutor Honoris Causa”, e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Já no Rio, esteve na Fiocruz e no Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Em São Paulo, o cientista israelense apresentou aspectos das mudanças vivenciadas pela Medicina nos últimos 100 anos, com destaque para a tecnologia. Dos raios-X à ressonância magnética, passando pelos antibióticos, esses avanços foram resultados de esforços contínuos da Ciência para que a expectativa de vida humana fosse prolongada. Entretanto, Ciechanover disse acreditar que, necessariamente, haverá um limite para essa extensão.

“A Medicina moderna tem que pagar o preço pela busca por maior tempo de vida. Trata-se de um fardo pesado para a economia, criando uma pressão crescente sobre as famílias, os governos e as seguradoras, ainda mais considerando que entre 80 e 90% dos gastos com saúde são feitos na parte final da vida”, enfatizou.

A primeira revolução da Medicina, segundo Ciechanover, ocorreu entre as décadas de 1930 e 1960, com a criação de medicamentos como a aspirina e a penicilina. Entre os anos 1970 e 2000, ocorreu a segunda, quando os avanços tecnológicos e a descoberta de novos compostos químicos, como as estatinas, viabilizaram a criação de drogas mais eficazes para obter, por exemplo, o controle do nível de colesterol.

A medicina preventiva e a epidemiologia, dois segmentos que, no entendimento do Nobel de Química, ainda não recebem a devida valorização, deverão se tornar a base para o que ele entende como a terceira revolução, ou seja, a descoberta, por meio da pesquisa biomédica, de drogas que direcionem os tratamentos médicos para uma personalização, atendendo a características genéticas específicas de cada paciente.

O pesquisador citou os quatro “Ps” que esta nova Medicina deverá ter como características: personalizada, preditiva, preventiva e participativa, sendo esta última a que irá emancipar a condição do paciente no contexto de seu tratamento, dando-lhe possibilidades de discussão e de escolha. Ciechanover considera que a base para a personalização surgiu a partir do advento do Projeto Genoma, em 2000. Com o sequenciamento dos genes que formam o DNA, tornou-se possível elaborar análises das particularidades do organismo de cada paciente e de como as doenças podem se manifestar de formas diferentes no corpo humano.

Outro ponto considerado relevante pelo pesquisador é o fato de que os medicamentos precisam ser desenvolvidos não apenas com foco nas doenças, mas também nas possíveis reações adversas que uma pessoa pode apresentar. Para isso, o mapeamento genético é fundamental para a prevenção de efeitos colaterais.

Ciechanover também defendeu que os países invistam nas universidades e, em especial, nos pesquisadores, pois muitas das descobertas científicas são consequências de pesquisa básica movida pela curiosidade dos cientistas.

Qualidade – Após a palestra, Ciechanover foi questionado pelo Informativo sobre o atual estágio das pesquisas em torno do sistema proteolítico ubiquitina, que lhe rendeu o Prêmio Nobel. Relacionado pelo pesquisador a medicamentos de combate ao câncer, devido ao fato de esta doença ser causada por proteínas modificadas que se acumulam de forma anormal, o sistema foi definido por ele como um “mecanismo de controle de qualidade” do corpo humano por descartar proteínas que podem gerar efeitos nocivos ao organismo.

Segundo o cientista, por se tratar de uma plataforma para o desenvolvimento de novas drogas, a ubiquitina já foi adotada como referência por algumas das mais importantes indústrias farmacêuticas globais, como Merck e Johnson & Johnson. Além disso, ele informou que já foram publicados cerca de 100 mil artigos científicos sobre o assunto. “A descoberta foi apenas a ponta do iceberg, pois trata-se de um sistema complexo, que envolve cerca de 2 mil proteínas”, apontou.

Trajetória – Aaron Ciechanover nasceu no ano de 1947 em Haifa (Israel). Nos estudos, desenvolveu interesse pelas Ciências Biológicas (em especial, pela Bioquímica). No início dos anos 1970, obteve mestrado em Ciências e formou-se em Medicina na Universidade Hebraica de Jerusalém. Prestou o serviço militar atuando na área médica de 1973 a 1976.

Em 1981, concluiu o doutorado no Instituto de Tecnologia de Israel (Technion), em Haifa. Nessa época, juntamente com seu orientador (o também israelense Avram Hershko) e o norte-americano Irwin Rose (1926-2015), do Fox Chase Cancer Center de Filadélfia (EUA), descobriu o papel da ubiquitina, que marca proteínas indesejadas para que estas sejam decompostas pelo complexo denominado proteassoma. O trabalho foi agraciado com o Prêmio Nobel de Química de 2004 (veja box).

No pós-doutorado realizado no Massachusetts Institute of Technology (MIT) de 1981 a 1984, o pesquisador continuou seus estudos sobre o sistema ubiquitina e fez importantes descobertas adicionais. Ficou comprovado que proteólises mediadas por ubiquitina desempenham um importante papel em muitos processos celulares e anomalias nos sistemas que sustentam mecanismos patogênicos de muitas doenças, como certas malignidades e transtornos neurodegenerativos. Dessa forma, o sistema se tornou uma plataforma importante para o desenvolvimento de medicamentos. Atualmente, Ciechanover é professor honorário de pesquisa na Faculdade de Medicina do Instituto de Tecnologia de Israel.

              O Beijo da Morte

As pesquisas que conferiram o Prêmio Nobel de Química de 2004 a Ciechanover e aos seus colegas Avram Hershko e Irwin Rose foram realizadas na década de 1980 e ajudaram a ciência a compreender como o corpo humano protege-se de doenças como a leucemia e a fibrose cística a partir da eliminação de proteínas indesejadas.

As proteínas são moléculas que executam várias funções dentro das células. Porém, quando terminam seu ciclo de vida precisam ser eliminadas. Os cientistas descobriram que as proteínas indesejadas, capazes, por exemplo, de levar a erros na multiplicação das células, recebem o que foi denominado na época pela Academia Real de Ciências da Suécia - promotora do Prêmio Nobel - como o “beijo da morte” de uma molécula chamada ubiquitina, que se fixa a elas e as conduzem até os proteossomos.

Funcionando como unidades de “processamento de lixo”, os proteossomos trituram as proteínas. Antes de a destruição começar, a ubiquitina solta-se de sua “vítima” e começa a procurar outra proteína a ser descartada.

O corpo permanece o tempo todo trocando proteínas, sintetizando-as e destruindo-as. Ciechanover, Hershko e Rose explicaram o processo de controle de qualidade que o organismo realiza para se livrar das proteínas que se estragam, fornecendo bases para o desenvolvimento de vários medicamentos destinados ao tratamento de doenças degenerativas.








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