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Mar/Abr 2016 

 


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Fosfoetanolamina - Pesquisador critica MCTI e diz que testes começaram a ser feitos no exterior


Reprodução/TV Senado

     Chierice desconfia da lisura do processo

Criador da fosfoetanolamina sintética, popularmente chamada de “pílula do câncer”, o Químico Gilberto Orivaldo Chierice, pesquisador e professor aposentado do Instituto de Química da USP de São Carlos (IQSC-USP), fez críticas à repercussão dada aos primeiros relatórios com resultados das análises in vitro para caracterização e síntese da substância candidata a medicamento, feitas por laboratórios contratados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).


Durante audiência pública no Senado ocorrida em 5 de abril (confira mais detalhes na próxima página), Chierice chegou a anunciar que, por desconfiar da lisura do processo conduzido no Brasil, já permitiu a realização de pesquisas em outros países, citando Coreia do Sul, México e Canadá, “até para termos a confiança de que a fosfoamina não funciona; só que os testes lá fora já começaram e ela está funcionando”, adiantou.


Divulgados em março, os testes iniciais integraram a primeira fase das pesquisas que visam, por meio de um investimento de R$ 10 milhões, atestar a segurança e a eficácia do composto, a fim de que seja possível utilizá-la como um fármaco no tratamento de tumores.


Em entrevista ao Informativo, Chierice afirmou que há uma tendência de se buscar motivos para desacreditar o composto sintetizado por ele e sua equipe. Um dos pontos mais comentados a respeito das primeiras análises feitas pelo MCTI foi a proporção de fosfoetanolamina encontrada nas cápsulas (32,2%), muito distante dos 100% esperados. O pesquisador salientou nunca ter dito que o conteúdo das cápsulas seria esse, mas sim que o grau de pureza (99%) se referia ao monocristal de fosfoetanolamina, gerado durante a síntese. Ele confirmou – conforme atestaram as análises do MCTI – que a proporção da substância no produto final sempre variou de 32% a 35%. O restante da fórmula é composto por sais de cálcio, magnésio e zinco para fins de neutralização do caráter ácido da fosfoetanolamina, o que impede reações adversas, como problemas estomacais, por exemplo.


Chierice explicou ainda que não há como obter resultados expressivos in vitro, pois a eficácia do composto depende de sua metabolização no fígado. “A substância em estado puro só existe na síntese. Quando ela é encapsulada, já passou por um processo de conversão para que o produto possa ser absorvido pelo organismo. E a cápsula é insolúvel, tendo que necessariamente passar pelo trato digestivo”, reforçou.

Testes - Entre os centros de pesquisa que analisaram o composto a pedido do MCTI estão o Laboratório de Química Orgânica Sintética do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (LQOS/Unicamp) e o Laboratório de Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASSBio/UFRJ). Além de fosfoetanolamina, os técnicos encontraram os seguintes componentes nas amostras que receberam: 18,2% de monoetanolamina protonada; 3,9% de fosfobisetanolamina; 34,9% de fosfatos de cálcio, magnésio, ferro, manganês, alumínio, zinco e bário; 3,6% de pirofosfatos de cálcio, magnésio, ferro, manganês, alumínio, zinco e bário; e 7,2% de água.


Sobre os componentes verificados nessas análises, Chierice avaliou que pode ter havido alguma contaminação ou modificação da substância decorrente do método utilizado. “Podem ter optado por algum outro processo de síntese previsto na literatura, como o de Cherbouliez, que utiliza carbonato de bário”, argumentou.


Outro fator comentado durante a audiência pública e que pode ter afetado o resultado das análises diz respeito ao modo como as cápsulas foram transportadas e armazenadas até chegarem aos laboratórios contratados pelo MCTI. Depois de produzidas no IQ de São Carlos, os lotes foram enviados à reitoria da USP em 9 de dezembro de 2015. Esta os remeteu ao MCTI, que os recebeu no dia 16 daquele mês. A entrega efetiva dos lotes aos laboratórios só ocorreu em 6 de janeiro. O meio utilizado para essas transferências foi o Sedex 10, serviço mantido pelos Correios. Não se sabe em quais condições os lotes ficaram armazenados durante esse período e nem como foram manipulados durante a logística.

 

Arquivo

Dias: Eles desconhecem o conteúdo das cápsulas

Desconhecimento - Coordenador do LQOS, o professor e pesquisador Luiz Carlos Dias ressalta que o objetivo dos testes não foi colocar a fosfoetanolamina em descrédito, mas sim esclarecer quais são os seus componentes e preparar cada um deles em sua forma pura para que os testes pré-clínicos pudessem ser realizados. “Procuramos elucidar o que havia dentro das cápsulas que recebemos. Constatamos que há problemas no procedimento experimental utilizado pelo grupo de pesquisadores de São Carlos. Eles desconhecem o verdadeiro conteúdo das cápsulas. Os detalhes estão em nosso relatório completo, publicado no site do MCTI”, explicou.


De acordo com Dias – vencedor da edição 2014 do Prêmio Walter Borzani, promovido pelo CRQ-IV –, as análises foram feitas por meio de ressonância magnética nuclear de hidrogênio-1, carbono-13, fósforo-31 e emissão óptica com plasma indutivamente acoplado, que permitiram a identificação de componentes orgânicos e inorgânicos que, segundo ele, são as técnicas mais avançadas atualmente.


O pesquisador defende os testes realizados, já que seguem os protocolos estabelecidos. “Apesar do clamor popular pela liberação da substância e do projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional, é temerário pular etapas previstas pela Ciência para atestar se a substância tem ou não potencial para se tornar um fármaco”, avaliou o coordenador do LQOS.


Dias também ressaltou que os dados gerados pelo relatório de caracterização e síntese dos componentes das cápsulas poderão servir como referência para a produção da fosfoetanolamina que será realizada pelo laboratório PDT Pharma, de Cravinhos. Já iniciado, esse trabalho está sendo acompanhado pelo Químico Salvador Claro Neto, integrante da equipe de Gilberto Chierice e que vinha, sozinho, produzindo as cápsulas do composto no IQ de São Carlos para atender a determinações judiciais. A substância será remetida para encapsulamento à Fundação para o Remédio Popular (Furp), pertencente ao governo de São Paulo, que também fará testes com o composto em seres humanos por meio do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).


Outro ponto que chamou bastante atenção no relatório do LQOS se refere aos diferentes pesos encontrados nas cápsulas enviadas pelo IQSC-USP ao MCTI, que variaram de 233 mg a 368 mg, significativamente menores do que informavam os rótulos das embalagens do lote analisado (500 mg por cápsula). Para Gilberto Chierice, essa diferença pode ter sido causada pelo método de encapsulamento utilizado no IQSC-USP, feito através de uma máquina de operação manual. “Se fosse um equipamento automático, seria possível ter mais precisão”, comparou.


Etapas - Estudos pré-clínicos, realizados pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará (NPDM/UFC), de Fortaleza (CE), e pelo Centro de Inovação de Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), de Florianópolis (SC), testaram a citotoxicidade da fosfoetanolamina.


O relatório elaborado pelo NPDM/UFC concluiu que a fosfoetanolamina não é citotóxica e que os estudos in vitro foram utilizados para triagem inicial de moléculas promissoras. Além disso, foi feita uma referência aos trabalhos publicados com a substância, “que atestaram potencial antitumoral in vivo, possivelmente por depender de rotas metabólicas para desencadear sua ação. Com isso, sugerimos que testes adicionais in vivo sejam realizados para verificação da atividade antineoplásica da fosfoetanolamina”, salientou o documento.


Contudo, o relatório do CIEnP informou que “somente a monoetanolamina apresentou atividade citotóxica e antiproliferativa sendo, contudo, várias ordens de magnitude menos potente que os antitumorais Cisplatina e Gencitabina, utilizados como controle positivo. Já a fosfoetanolamina e a fosfobisetanolamina não apresentaram nenhuma atividade citotóxica nem antiproliferativa em nenhuma das três metodologias utilizadas".





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