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Mar/Abr 2011 

 


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Inspiradora do AIQ fez conferências no Rio, São Paulo e Minas Gerais


Marie Curie veio ao Brasil em 1926 e por aqui passou 45 dias
 
Muitos não sabem, mas o Brasil dos anos 1920 foi destino de importantes celebridades do mundo científico, que aqui vieram para dar aulas, visitar centros de pesquisas e conhecer as potencialidades de uma nação que começava a despertar para as ciências. Depois das passagens dos físicos Albert Einstein e Paul Langevin, dos matemáticos Jacques Hadamard e Émile Borel e do antropólogo Paul Rivet, em 1926 foi a vez de o País receber Marie Curie, que ficou mundialmente conhecida por suas pesquisas com elementos radioativos e que lhe valeram a concessão de dois prêmios Nobel (Física, em 1903, e Química, em 1911). O centenário deste segundo prêmio, aliás, é uma das razões que levaram a ONU/Unesco a estabelecer 2011 como o Ano Internacional da Química (AIQ).

Madame Curie, como ficou conhecida, passou 45 dias no Brasil. Começou pelo Rio de Janeiro, onde desembarcou no dia 15 de julho, acompanhada da filha mais velha, Irène. Veio a convite do extinto Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura, uma instituição mantida pela embaixada francesa. O instituto organizou uma série de conferências sobre a radioatividade na Escola Politécnica da Universidade do Rio de Janeiro (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro), que na época ficava no Largo de São Francisco de Paula, no centro da cidade.

Apesar de o Brasil do começo do século passado ocupar uma posição modesta nas pesquisas de vanguarda, a vinda dessas celebridades ao País despertava grande interesse por parte da mídia. A chegada de Curie ao Rio, por exemplo, fez com que repórteres de vários jornais fossem acompanhar seu desembarque e depois produzissem várias matérias sobre sua vida. Algumas das conferências que ela fez foram transmitidas pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, segundo relatam os pesquisadores Luisa Massarani e Ildeu de Castro Moreira em artigo publicado em 2003 na Revista Rio de Janeiro, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Depois dos compromissos oficiais e de visitar pontos turísticos da cidade, como o Pão de Açúcar e a Ilha de Paquetá – pois ela “tinha o desejo de conhecer nossas riquezas naturais”, segundo reportagem de A Gazeta Clínica, Curie rumou para São Paulo e Minas Gerais.
 
O trem que trouxe a cientista e sua filha para São Paulo chegou em 13 de agosto na então “Estação do Norte” (atual Roosevelt). Duas importantes figuras da história paulista e brasileira as ciceronearam: Bertha Lutz, filha do médico Adolfo Lutz, era zoologista formada pela Sorbone (como Marie) e pioneira do movimento feminista no Brasil, e Carlota Pereira de Queiroz, médica oncologista e que, em 1933, foi a primeira mulher eleita deputada federal no Brasil. Madame Curie foi recebida na estação por autoridades políticas, personalidades da ciência e franceses residentes na cidade.

Entre seus principais compromissos em São Paulo estava a palestra sobre radiologia, realizada no mesmo dia de sua chegada, no anfiteatro da Faculdade de Medicina, no bairro de Pinheiros. Para um auditório repleto de professores, estudantes, médicos e “muitas senhoras e senhoritas”, como registrou uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, ela abriu a conferência recordando a descoberta de Becquerel (Antoine Henri Becquerel, Prêmio Nobel de Física de 1903): “foi este sábio que encontrou no urânio propriedades inteiramente novas” – e previu: “esses fenômenos reservam ao mundo surpresas inconcebíveis”. De acordo com reportagem da época, Curie ilustrou a palestra com “diversas projeções luminosas e explicou minuciosamente a existência de emanações radioativas no meio ambiente”.
 
A cientista visitou, ainda, o Instituto Butantan, a Estação Biológica do Alto da Serra e teve encontros com representantes do governo e prefeitura. Com vigor físico invejável, Madame Curie rumou no dia seguinte para Thermas de Lindoya, hoje município de Águas de Lindoia, para onde foi a convite médico italiano Francisco Tozzi. “Ela quis visitar a cidade porque sabia que aqui existiam águas radioativas. Meu avô, quando fazia palestras, já citava a radioatividade da água e afirmava que as curas eram promovidas por essa propriedade”, conta Mirian Tozzi, neta do médico que, em 1916, fundou o então vilarejo. Especializado em tratamentos termais, Tozzi tornou a localidade famosa no mundo ao divulgar seus estudos sobre a composição e as propriedades curativas das águas da região. Mirian conta que seu avô batizou uma sala de emanações com o nome de Marie Curie. A sala tinha uma piscina e da água saíam gases. Doentes eram colocados no ambiente para respirarem aqueles vapores, explicou Mirian. A sala das emanações foi desativada quando o Estado desapropriou as termas e continua fechada ao público até hoje.

Minas Gerais – Partindo de São Paulo, Marie Curie e sua filha chegaram no dia 16 de agosto em Belo Horizonte. Segundo o  professor João Amilcar Salgado, fundador do Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais (Cememor), o interesse de Madame Curie na capital mineira era visitar o Instituto do Rádio, primeiro hospital das Américas dedicado ao tratamento do câncer. Ela e a filha conheceram as instalações e posaram para uma foto nos jardins do instituo ao lado de médicos e funcionários.
 
No dia seguinte, a cientista fez, na Faculdade de Medicina, uma conferência sobre a radioatividade e suas aplicações. Na platéia, estudantes que depois se tornariam personalidades famosas no País: Juscelino Kubistchek, ex-presidente, Pedro Nava e João Guimarães Rosa, que se notabilizaram no campo da literatura. Anos mais tarde o Instituto do Rádio passou a se chamar Instituto Borges da Costa, em homenagem ao seu fundador, e continua em funcionamento até hoje.
 
De volta ao Rio de Janeiro, em 19 de agosto Curie foi homenageada pela Academia Nacional de Medicina, sendo declarada sócia honorária, e lá fez uma conferência. Mãe e filha voltaram à França no dia 28 de agosto. Marie Curie manteve seu trabalho no Instituto do Rádio de Paris e continuou a fazer viagens internacionais até morrer, em 1934, aos 67 anos.

O Instituto do Rádio, fundado por ela em Paris em 1909, existe até hoje. É o maior centro dedicado à pesquisa do câncer na França. Lá funciona o Museu Curie, no mesmo local em que, em 1898, ierre, seu marido, e ela, trabalhando em um laboratório improvisado, descobriram o polônio e o rádio, dando início a toda esta história.
 
 
 
 

Preconceito abreviou visita a MG

Notícias da época informam que Madame Curie visitaria outras cidades durante sua estada em Minas Gerais. Porém, de acordo com o professor João Amilcar Salgado, fundador do Cememor, estes compromissos foram cancelados em cima da hora porque as esposas dos médicos e dos representantes de associações científicas ficaram enciumadas. Tais reações decorreram do “escândalo” amoroso em que ela se envolveu 15 anos antes de sua visita ao Brasil.

 

Viúva e jovem, ela teve um envolvimento amoroso com o físico Paul Langevin, ex-aluno de seu falecido marido. O romance veio a público quando Langevin já não estava mais casado. A imprensa conservadora da época acusou Madame Curie, uma estrangeira e de hábitos não convencionais (pois era uma cientista e feminista), de ter acabado com o casamento de “respeitáveis cidadãos franceses”.
 

Cartas trocadas entre Langevin e Curie foram publicadas pelos jornais. O fato causou uma comoção popular tão grande que manifestantes chegaram a fazer piquetes em frente à casa dos Curie, em Paris. O escândalo estourou na mesma época em que a cientista polonesa era anunciada como ganhadora do Prêmio Nobel de Química, em 1911.

 

Abrigada na casa de amigos com as duas filhas, Marie Curie rompeu o relacionamento com Langevin, declarou-se envergonhada por macular o nome do marido e, ao que se saiba, nunca mais teve envolvimentos amorosos.

 

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